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Grandes empresas ajudaram filha de ex-presidente de Angola a se tornar bilionária

BILIONARIA MAS ORDINARIA

 

 

NOVA YORK - Isabel dos Santos, a mulher mais rica da África e a filha de José Eduardo dos Santos,  ex-presidente de Angola, afirma que sua fortuna estimada em mais de US$ 2 bilhões foi construída por seu próprio esforço, sem a ajuda de fundos do Estado.

 

Mas uma imagem diferente surgiu por investigações nos últimos anos: ela pegou para si uma parte da riqueza de Angola, muitas vezes por meio de decretos assinados por seu pai. Ela tinha participação nas exportações de diamantes do país, na maior empresa de telefonia móvel,em dois de seus bancos e em sua maior produtora de cimento, além de ter feito uma parceria com a gigante estatal de petróleo do país para comprar a maior companhia petrolífera de Portugal.

Agora, um conjunto de mais de 700 mil documentos obtidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e compartilhados com o New York Times e outras jornais mostra como uma rede global de consultores, advogados, banqueiros e contadores a ajudou a acumular essa fortuna e guardá-la no exterior. Algumas das principais empresas de serviços profissionais do mundo — incluindo o Boston Consulting Group, McKinsey & Company e PwC — facilitaram seus esforços para lucrar com a riqueza de seu país, emprestando a própria legitimidade.

O império que ela e o marido ergueram vai de Hong Kong aos Estados Unidos, e inclui mais de 400 empresas e subsidiárias. Abrange propriedades em todo o mundo, incluindo uma mansão de US$ 55 milhões em Monte Carlo, um iate de US$ 35 milhões e uma luxuosa mansão em Dubai em uma ilha artificial em forma de cavalo-marinho.

Entre os negócios estão uma joalheria suíça, que, revelam registros e entrevistas, era liderada por uma equipe recrutada pela Boston Consulting. Sob seus cuidados, milhões de dólares em fundos estatais angolanos ajudaram a financiar festas anuais na Riviera Francesa.

Quando a Boston Consulting e a McKinsey assinaram um contrato para ajudar a reestruturar a Sonangol, a empresa estatal de petróleo de Angola, elas concordaram em ser pagos de maneira incomum — não pelo governo, mas por uma empresa maltesa de propriedade de Isabel. Então, seu pai a pôs no comando da Sonangol, e os pagamentos do governo dispararam, distribuídos por outra empresa offshore, essa de propriedade de um amigo dela.

A PricewaterhouseCoopers, agora chamada PwC, atuou como sua contadora, consultora e assessora tributária, trabalhando com pelo menos 20 empresas controladas por seu marido. Houve momentos óbvios em que o dinheiro do Estado angolano não foi contabilizado, de acordo com especialistas em lavagem de dinheiro e contadores forenses que revisaram os documentos recém-obtidos.

Quando as consultorias ocidentais chegaram a Angola quase duas décadas atrás, elas foram vistas pela comunidade financeira global como uma força para o bem: levariam profissionalismo e padrões mais altos a uma ex-colônia portuguesa devastada por anos de guerra civil. Mas, no fim das contas, elas pegaram o dinheiro e fizeram o que seus clientes pediram, disse Ricardo Soares de Oliveira, professor de política internacional em Oxford que estuda Angola.

— Elas estão lá como fornecedoras de qualquer finalidade que essas elites queiram — disse ele. — Elas não têm status moral. São o que você faz delas.

Agora, mais de dois anos depois que seu pai deixou o cargo depois de 38 anos como presidente de Angola, Isabel dos Santos está com problemas.

No mês passado, um tribunal angolano congelou seus bens no país como parte de uma investigação de corrupção, junto com os dos marido e os de um associado de negócios português. O procurador-geral angolano afirmou que o casal era responsável por mais de US$ 1 bilhão em fundos estatais perdidos, com foco especial na De Grisogono e Sonangol.

Isabel dos Santos e seu marido podem enfrentar anos de prisão se condenados, segundo o gabinete do presidente de Angola, João Lourenço. No centro da investigação estão US$ 38 milhões em pagamentos da Sonangol para uma empresa de fachada de Dubai, horas depois que o novo presidente de Angola anunciou que ela estava demitida.

O meio-irmão de Santos também está enfrentando acusações de corrupção por ajudar a transferir US$ 500 milhões do fundo soberano de Angola. O congelamento de ativos ocorreu logo depois que os parceiros de relatórios do ICIJ perguntaram ao governo sobre transações citadas nos documentos.

Em entrevista à BBC, Isabel, de 46 anos, negou qualquer irregularidade e chamou o inquérito de "perseguição política".

— Minhas empresas são financiadas de modo particular, trabalhamos com bancos comerciais, nossas participações são participações privadas — disse ela.

Bancos globais, incluindo o Citigroup e o Deutsche Bank, que seguem regras rígidas para clientes com conexões políticas, se recusaram a trabalhar com a família nos últimos anos, mostram os documentos.

“Esses caras ouvem falar de Isabel e correm como o diabo da cruz”, escreveu Eduardo Sequeira, chefe de finanças corporativas da Fidequity, empresa portuguesa que administra muitas das empresas de Santos, em um e-mail de 2014, após o banco espanhol Santander se recusar a trabalhar com ela.

As empresas de consultoria, muito menos regulamentadas que os bancos, abraçaram prontamente seus negócios. As firmas de consultoria americanas comercializam sua experiência em levar as melhores práticas para clientes em todo o mundo.

Mas, na busca por comissões, várias trabalharam para regimes autoritários ou corruptos em lugares como China ou Arábia Saudita. Os negócios da McKinsey na África do Sul foram dizimados por sua parceria com uma empresa contratada vinculada a um escândalo político que derrubou o presidente do país.

Os novos vazamentos mostram o padrão se repetindo em Angola, onde as faturas apontam para dezenas de milhões de dólares destinados às empresas. Eles concordaram em ser pagos pelo trabalho para o governo angolano por empresas de fachada — ligadas a Santos e seus associados — que eram sediadas há muito tempo no exterior e usadas para evitar impostos, esconder riqueza ilícita e lavar dinheiro. O acordo permitiu que ela mantivesse uma grande parte dos fundos do estado, mostram os registros.

Os documentos, chamados de Luanda Leaks (Vazamentos de Luanda), incluem e-mails, apresentações de slides, faturas e contratos. Eles chegaram ao ICIJ através da Plataforma de Proteção de Denunciantes na África, um grupo jurídico e de ativismo baseado em Paris.

A PwC em Londres, disse que estava investigando suas relações com Isabel dos Santos e deixaria de trabalhar com sua família. A Boston Consulting disse que tomou medidas, quando contratada, "para garantir o cumprimento das políticas estabelecidas e evitar a corrupção e outros riscos". A McKinsey chamou as alegações contra Isabel de "preocupantes" e disse que não estava fazendo nenhum trabalho agora com ela. ou suas empresas. O GLOBO

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