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Feudos - FOLHA DE SP

No século 18, todos os países eram pobres. A renda média por habitante era de cerca de US$ 1 por dia, mesmo na Inglaterra, e a expectativa de vida, perto de 40 anos.

Desde então, houve uma revolução econômica: a renda dos países desenvolvidos aumentou cem vezes e a expectativa de vida duplicou. Nas últimas décadas, cerca de 1 bilhão de pessoas saíram da linha da pobreza extrema nos países emergentes.

Um típico morador da África subsaariana atual vive melhor do que uma pessoa na França de 1700.

Esse desenvolvimento, no entanto, não se deu de forma uniforme. Há países que crescem desde o século 19, como os EUA, e outros que se desenvolveram mais recentemente, como a Coreia do Sul. Há também aqueles estagnados na pobreza, outros na renda média, como o Brasil, e alguns naufragam, como a Venezuela.

A pesquisa aplicada em economia procura identificar as razões da diferença no desempenho dos países. A evidência indica que a igualdade no acesso à educação de qualidade e a expansão da infraestrutura estão relacionadas com o desenvolvimento econômico.

Na última década, o acesso a bases de dados mais detalhadas permitiu identificar um fator surpreendente.

Existem empresas eficientes em diversos setores dos países emergentes, mas em menor proporção do que em nações ricas. Isso significa que parte da desigualdade de renda entre os países decorre, em boa medida, da distribuição dos fatores de produção, capital e trabalho, entre empresas com maior ou menor produtividade em cada um deles.

Nas economias desenvolvidas, as empresas ineficientes tendem a ser menores ou a desaparecer, enquanto as mais produtivas crescem e utilizam uma parcela maior dos fatores de produção, o que resulta em maior geração de renda.

Por outro lado, nos países pobres, as empresas pouco produtivas conseguem competir e sobreviver graças a políticas públicas que concedem privilégios, como regimes tributários especiais, regras de conteúdo nacional e acesso ao crédito subsidiado.

A retomada do crescimento no Brasil requer enfrentar as causas do nosso atraso, como a baixa qualidade da educação ou o pouco investimento em infraestrutura. Deve-se também retirar as distorções que protegem empresas ineficientes.

Não é tarefa fácil, como revela a resistência dos grupos organizados à proposta de maior abertura comercial ou à reforma tributária. Os beneficiados por favores oficiais se recusam a serem submetidos às regras de mercado que valem para os demais.

A agenda liberal na economia passa por retirar os privilégios dos senhores feudais fantasiados de capitalistas.

Marcos Lisboa

Presidente do Insper, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005) e doutor em economia.

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