Busque abaixo o que você precisa!

Os grandes segredos de Pompeia / ISTOÉ

Se existe um lugar na Europa decisivo para o desenvolvimento da arqueologia moderna é a cidade de Pompeia, no sul da Itália, situada a 23 quilômetros de Nápoles. Junto com suas vizinhas, Herculano e Stabia, ela foi soterrada por uma erupção do Vesúvio em agosto de 79 d.C. Passou dezesseis séculos sob a poeira vulcânica e a lava até que as primeiras escavações começassem a ser feitas na região, em 1748, sob o patrocínio do monarca espanhol Carlos III. O que se descobriu nas suas ruínas, desde então, permite que se estabeleça um retrato do cotidiano de uma cidade romana dominada por uma elite de comerciantes de azeite e vinho no início da nossa era. As pessoas cuidavam de afazeres domésticos e profissionais quando foram atingidas por pedras e pelos chamados fluxos piroclásticos, nuvens de cinzas com temperaturas elevadíssimas e repletas de gases venenosos. Morreram na hora. Mais de mil corpos encontrados na cidade foram paralisados em posições impressionantes, surpreendidos em atividades rotineiras pela fúria do Vesúvio.

Apesar de uma longa história de descobertas arqueológicas, Pompeia ainda parece ter muito para mostrar e não para de maravilhar com suas riquezas ocultas. O mais recente achado nas suas ruínas foi um baú de instrumentos e adornos coloridos que devem ter pertencido a uma escrava ou uma serva. Pesquisadores do parque arqueológico local analisaram os amuletos e contas de vidro e, concluíram, pela ausência de qualquer objeto de ouro entre os pertences encontrados, que sua dona era possivelmente uma empregada da casa que exercia algum tipo de função religiosa. Além disso, os artefatos estavam em uma área de serviço, longe do quarto dos donos e do átrio. Na parede do aposento principal foi revelado um retrato da proprietária usando um par de brincos brilhantes e refinados, típicos de uma romana rica.

FEITIÇARIA Objetos recentemente encontrados em Pompeia podem ser o tesouro religioso de uma serva ou escrava (Crédito:Divulgação)

No lugar onde se realizou a escavação, chamada Casa de Giardino, foram encontradas dez vítimas da erupção, todas mulheres e crianças. Testes de DNA estão sendo feitos para estabelecer relações de parentesco entre esses corpos. Segundo a agência de notícias Ansa, entre os objetos do baú há cristais, pedras de âmbar, ametistas, botões feitos com ossos, amuletos em forma de escaravelhos, bonecos, esculturas de punhos e pênis em miniatura, espelhos, uma conta de vidro com a figura de Dionísio, deus da fertilidade, e até um crânio minúsculo. “Provavelmente esses artefatos pertenciam a mulheres e poderiam ser usados em rituais e não apenas para fins de ornamentação”, diz o diretor do parque arqueológico, Massimo Osanna. “Eles podem ser o tesouro escondido de uma feiticeira e são extraordinários porque contam micro-histórias dos habitantes da cidade”. Em torno da Casa de Giardino foi descoberta uma inscrição, no ano passado, indicando que a erupção do Vesúvio pode ter acontecido em outubro de 79 d.C, dois meses depois do que sempre se pensou.

Afresco de Leda

Outra descoberta recente em uma casa em ruínas da cidade foi um belo afresco com a representação da rainha de Esparta, Leda, com o deus Júpiter disfarçado de cisne em seu colo, simulando um ato sexual. O que chama atenção na obra, diferente da maioria dos desenhos encontrados nas casas de Pompéia, é sua riqueza de cores e detalhes que revelam uma alta qualidade de execução. Para os arqueólogos, a imagem de Leda segue o modelo criativo de Timóteo, escultor grego do século IV a.C. O sítio onde foi encontrado o afresco ainda foi pouco explorada pelos pesquisadores, mas há indicações de que seu dono seria um comerciante próspero, possivelmente um escravo liberto, que tentava elevar sua imagem social por meio de referências a mitos da alta cultura. Cada objeto ou obra de arte que se encontra na cidade abre um horizonte de significados e interpretações sobre a vida no século 1. Fica claro que ainda há muitos achados a serem feitos. E desvendar Pompeia, para saber mais sobre como viviam, pensavam e se comportavam as elites romanas e seus servos, continua sendo um objetivo fundamental da arqueologia moderna.

 

 

Compartilhar Conteúdo

444