Uma resposta para Greta
Participo nesta segunda (23), em Nova York, de uma mesa de debates sobre o meio ambiente, em um evento paralelo à Cúpula do Clima da ONU, que busca acelerar de forma ambiciosa os compromissos do Acordo de Paris para a contenção do aumento da temperatura do planeta.
Preparei-me para a discussão organizada pelos Movimentos Acredito, Agora e Livres sob o peso das notícias recentes, como o veto da União Europeia a 28 ativos de agrotóxicos liberados no Brasil e a cobrança por maior proteção da Amazônia feita por fundos de investimento de 30 países, que sozinhos somam R$ 65 trilhões.
Depois de o governo Bolsonaro observar nossa floresta queimar por dias a fio antes de esboçar uma ação e a ONU ter vetado o discurso que o Brasil faria hoje, por não termos apresentado novos compromissos contra as mudanças climáticas, reconheço, envergonhada, que entramos nessa semana do clima pela porta dos fundos.
Diante dos acontecimentos mais recentes, acompanhei com muita esperança a viagem de Greta Thunberg, a ativista sueca de apenas 16 anos que atravessou o Atlântico rumo à mesma NY em um veleiro movido a energia solar com zero emissão de gás, em protesto contra a indústria da aviação.
Diante de um compromisso tão genuíno com a causa ambiental, pergunto-me qual resposta podemos dar ao Brasil e ao mundo, em contraponto às teorias conspiratórias e respostas improvisadas do governo Bolsonaro.
Afinal de contas, a visão distorcida e simplista do presidente não faz jus ao respeito que já conquistáramos no nível global por políticas voltadas ao desenvolvimento sustentável e nem ao comprometimento de uma parte importante de nossa sociedade com a questão ambiental.
Há, sim, brasileiros engajados na causa e parlamentares dispostos a enfrentar com coragem a insanidade que tomou conta de diferentes áreas do governo, não se restringindo apenas às políticas ambientais.
A Comissão Especial do Meio Ambiente da qual assumi a relatoria é a segunda com foco no acompanhamento de ministérios (a outra é a de Educação) e tem o compromisso de fazer um balanço da gestão ambiental, por meio de um diagnóstico das políticas da área e suas consequências socioeconômicas, assim como emitir recomendações normativas e administrativas.
Volto-me para essa agenda com o empenho com que atuo na educação e em outras bandeiras de meu mandato, como as políticas voltadas às mulheres e jovens.
Para além da defesa das conquistas já obtidas, acreditamos que é possível avançar a partir de plataformas inovadoras, como a bioeconomia. Segundo um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a biotecnologia movimenta 2 trilhões de euros globalmente em biocombustíveis, bioplásticos e um conjunto ilimitado de produtos e serviços sustentáveis que estão surgindo, fruto da convergência entre as ciências biológicas e físicas e as engenharias.
Podemos liderar essa agenda, especialmente no âmbito do agronegócio, regulamentando os processos e gerando incentivos. Um outro caminho é o desincentivo à emissão de gases estufa, via tributação sobre a pegada de carbono ou o estímulo ao mercado de compensação de carbono.
Não temos o direito de ficar indiferentes às mudanças climáticas. À ciência não importam nossas opiniões pessoais e, enquanto alimentamos uma guerra ideológica sem fim, o que está em jogo é a vida de 43,7 milhões de jovens brasileiros que, assim como a Greta, têm hoje seu futuro ameaçado.