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Antonio Mourão Cavalcante – “Vale a pena ver de novo?”

Com o título “Vale a pena ver de novo?”, eis artigo de Antonio Mourão Cavalcante, professor universitário, médico e antropólogo. “Não precisamos de salvadores. Queremos gestores que sejam capazes de assumir nossos sonhos, sem embustes”, diz o texto. Confira:

Jânio da Silva Quadros foi o 22º Presidente do Brasil. Tomou posse em janeiro de 1961 e durou menos de nove meses. Renunciou. Pensava voltar triunfalmente, impondo suas idéias e projetos ao Congresso Nacional. Entretanto, ele não tinha maioria nem em seu próprio partido, a UDN. Era tido como afoito e identificado com forças progressistas. Ganhou a eleição quase na marra, um furacão. O símbolo de sua campanha era a vassoura. Ia limpar toda corrupção do país. “O homem da vassoura vem ai!” bradava o slogan de sua propaganda eleitoral. Foi ao vento, perdeu o assento! A renúncia de Jânio abriu caminho para uma longa crise institucional que culminou com o fechamento do Congresso e a tomada do poder por um golpe militar. Estávamos em março de 1964.

Depois de um longo silêncio eleitoral, criada a nova Constituição, escolhemos um novo presidente. Eleito como um verdadeiro trator: Fernando Collor de Melo, pouco expressivo governador do estado de Alagoas. Seria o reencontro do Brasil com seu próprio destino. Collor pregava a favor dos pobres, contra a corrupção. Era o líder dos descamisados!… Igualmente, um contundente discurso contra a corrupção. Pauta tão ao gosto das forças conservadoras e assunto querido da classe média urbana. Collor manifestava um desprezo para com a classe política – leia-se grandes partidos políticos – e, afronta ao Congresso Nacional. O grande sonho de Collor era enquadrá-lo à sua vontade. Fez-se vitorioso, derrotou grandes caciques da política nacional: Ulisses Guimarães, Brizola e, finalmente, Lula. Surgiu como um incômodo para o Congresso. Não demorou muito e a crise evoluiu para um processo de impeachment. Choveram denúncias encima do valente Collor de Melo. Não pode resistir e renunciou.

Agora, temos um novo governo – Jair Messias Bolsonaro – que guarda semelhanças muito fortes com estes dois antecessores. Uma candidatura que também surge sem respaldo de partido político consistente. Aliás, demonstrando desprezo pela classe política. Muito comum insinuar que todo político é ladrão. Que ele não faz acordo com a velha política. Isso, apesar dele próprio, ter estado como deputado federal por mais de 27 anos. Alimenta uma confrontação frontal com o Congresso. Surge, quase diariamente, com propostas beirando a insanidade. Tem um conjunto de suportes sociais díspares. Faz um malabarismo profético e arriscado. Parece apostar no caos. Em menos de cinco meses, já apresenta inquietantes fissuras em seu arcabouço de sustentação.

Por que somos parceiros de tão fatídica História? Aonde foi que erramos? O que falta em nosso sistema de representatividade? Por que fazemos tantas escolhas insensatas?

Primeiro. Falta uma consciência histórica que estamos – qual como o povo hebreu, descrito no Antigo Testamento – rodando em um mesmo trajeto político por anos e anos. Aborrecidos com governos anteriores, fazemos escolhas insensatas, fantasiosas, mágicas. Como é que uma criatura sozinha pode transformar a realidade de um país? Devemos executar um projeto nacional por nós mesmos, discutido e especificado. Depois, vamos escolher quem pode executar esse desiderato. Não precisamos de salvadores. Queremos gestores que sejam capazes de assumir nossos sonhos, sem embustes. Pensar nisso exige uma escolha mais sensata, sem tanto emoção sensacionalista, sem engodos e amarras.

Quem não aprende com sua própria História, tende a repeti-la em tragédia.

*Antonio Mourão Cavalcante, Médico, antropólogo e professor universitário. COM BLOG DO ELIOMAR

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