Milícia cria bairro em Irajá e cola selo de 'contribuinte' em casas
RIO — Aos olhos do poder público, a São Leonardo faz parte de um grupo de ruas que fica na divisa entre Irajá e Vista Alegre, na Zona Norte do Rio. Na prática, no entanto, o conjunto de vias, predominantemente residenciais, forma o BairrodoSacil , que não está no mapa da cidade: é um território dominado por uma milícia . Enquanto a polícia investiga o avanço de grupos paramilitares para o subúrbio, depois de terem conquistado grande parte da Zona Oeste, o Sacil chama a atenção porque os muros e portões de suas casas ganharam recentemente um selo, para identificar os moradores que são “ contribuintes ”.
O Sacil, delimitado por várias cancelas que fecham ruas da área, tem guaritas e vigilantes. Nelas, há placas com o aviso “bairro seguro”. É possível constatar que nem todas as residências estão com os adesivos que indicam uma “contribuição” de pelo menos R$ 20 por mês. Os poucos moradores que aceitam falar sobre o assunto demonstram medo. Segundo eles, os homens que cuidam da segurança circulam uniformizados. Nenhum anda ostensivamente armado.
— Eu saio cedo para trabalhar e só volto à noite. Não queria pagar a tal contribuição, mas acabei me rendendo. Todo mundo paga, e eles passaram a colocar os adesivos nas casas. Achei melhor não ser a única diferente por aqui — disse uma moradora, acrescentando que, antes de começar a fazer os pagamentos, sua família foi assediada por alguns homens. — É uma atividade ilegal. Quem deve dar segurança ao cidadão? Tem que ser a polícia. É no mínimo estranho que a população precise de um tipo de patrulhamento que não seja o feito pelo estado.
Pelas ruas do Bairro do Sacil, homens circulam com um colete que tem um emblema no peito e, nas costas, a palavra “apoio”. O emblema em questão tem um “S” estilizado, e se assemelha ao adotado por firmas de segurança privada. Entretanto, não há qualquer sinal da existência de uma empresa formal ou mesmo de um número de telefone para contato. O que se sabe é que o nome, Sacil, tem origem numa antiga companhia do ramo imobiliário que atuava na região. O esquema de vigilância chegou também às ruas Anhembi, Pedro Teixeira e Criciúma, entre outras.