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Análise: Oposição a Bolsonaro não estabelece diálogo com sociedade

Marco Antonio Teixeira *, O Estado de S.Paulo

01 de maio de 2019 | 05h00

 

A eleição de Jair Bolsonaro, que gerou várias expectativas de mudanças, acabou desencadeando rapidamente um profundo sentimento de incerteza. Tal fato decorre não apenas do anúncio de várias medidas controversas que impactam diversos setores da administração pública e cidadãos de maneira geral, mas, sobretudo, das dificuldades demonstradas pelo governo de enfrentar o desafio de encaminhar reformas, como a da Previdência, e de atender compromissos assumidos com diferentes segmentos sociais que o apoiaram durante as eleições.

Como pôde ser observado no decorrer dos vários episódios que geraram crise na relação do governo com o Congresso, nenhum dos problemas responsáveis pelo atraso nos debates da reforma da Previdência, ou mesmo em relação à paralisação das discussões do projeto anticrime, foi fruto de alguma ação organizada dos partidos de oposição. Declarações e tuitadas do presidente e de assessores, ou mesmo de seus filhos, foram responsáveis por um conjunto de mal-estar que deteriorou a relação do governo com a sua própria base parlamentar.

Jair Bolsonaro
O presidente da República, Jair Bolsonaro; centrais sindicais farão protestos no 1º de Maio Foto: Adriano Machado/Reuters

O que isso significa? Primeiro que a oposição não é apenas inexpressiva do ponto de vista numérico para barrar projetos, como também vem encontrando dificuldade para se posicionar no debate público. No caso da reforma da Previdência, não apresenta projeto alternativo e atua, sobretudo, negando a sua necessidade. Ou seja, não consegue estabelecer diálogo com a sociedade.

Segundo, é notória, até o presente momento, a ausência de um presidente da República mais efetivo. Mesmo já empossado como presidente, Bolsonaro continua agindo como se fosse deputado, como alguém que representa um segmento e acaba alimentando as divisões que tanto instabilizam o processo político e dificultam a construção de acordos, algo que apenas a política democrática pode oferecer.

Por fim, é importante destacar que o governo só se constituirá de fato enquanto uma unidade efetiva se o presidente perceber que lidera um país com todas as diferenças de opinião, de condições socioeconômicas e de valores. Apesar de ter sido eleito por uma parte da sociedade, depois de empossado, passa a ser presidente de todos.

* CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE GESTÃO PÚBLICA DA FGV-SP

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