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A internet entre os imbecis e a democracia

Em artigo no O POVO deste sábado (27), o juiz federal Nagibe de Melo Jorge Neto observa que as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis, mas também tornam a democracia mais participativa. Confira:

Vivemos um tempo inédito e estranho. Se a invenção dos tipos móveis por Gutenberg possibilitou a Revolução da Imprensa e a ampla difusão da informação, a invenção da internet e das redes sociais possibilita que qualquer pessoa publique ideias (nem sempre bem articuladas) e distribua informação (nem sempre verídica) com alcance jamais imaginado por Gutenberg. Pessoas comuns não são mais meros leitores inofensivos.

Umberto Eco dizia que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. Mas não é só isso. O problema vai além porque a voz dos imbecis é amplificada por robôs, pessoas e empresas mal intencionadas cujo objetivo é distribuir informações falsas, difamar, implantar a cizânia, a ponto de influir no funcionamento do Estado. Alguns especialistas falam de ameaça real à democracia.

Nos Estados Unidos, o caso Cambridge Analytica e seu impacto sobre as eleições deixou evidente o potencial destruidor desses mecanismos. Cada pessoa é um pequeno replicador de informações e pode facilmente ser manipulado. No Brasil, o caso mais recente engolfou o Supremo Tribunal Federal. Como controlar as notícias fraudulentas que afetam a honra da Corte e de seus membros? O Estado pode censurar informações?

Se as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis, também é verdade que, de um modo ainda imperfeito, tornam a democracia mais participativa, conferem poder ao cidadão. O caminho para separar o joio do trigo não é a censura prévia do que se publica na internet. O caminho é mais longo e mais difícil: educar as pessoas, educá-las plenamente como não estamos nem perto de fazer.

Cada indivíduo se transforma em verdadeiro cidadão quando tem capacidade de interpretar e criticar as informações, discernir entre fontes confiáveis e não confiáveis, e elaborar suas próprias ideias. Cabe ao cidadão filtrar, excluir o lixo que boia na internet, usar as redes sociais para promover a liberdade de manifestação de pensamento e a liberdade de informação.

Em última análise, o único controle legítimo é o do próprio cidadão. A solução é mais e mais educação.

Nagibe de Melo Jorge Neto

Juiz Federal, professor da UniChristus e autor do livro Abrindo a Caixa-Preta: por que a Justiça não funciona no Brasil?

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