A futrica política que prejudica Maracanaú
Da Coluna Política, no O POVO deste sábado (6), pelo jornalista Érico Firmo:
Sobram erros no episódio que levou à exclusão de Maracanaú da lista de municípios que receberão experiências-piloto do Plano Nacional de Enfrentamento aos Crimes Violentos. O Município, extraoficialmente, estaria no programa. Porém, foi substituído. No lugar, entrou o município de Paulista, em Pernambuco. O motivo da troca passa por desencontros entre o governo Jair Bolsonaro (PSL) e a administração Camilo Santana (PT), e de Camilo com adversários locais. Perdem os maracanauenses.
Como tudo foi tratado extraoficialmente, as razões ficam nebulosas. Não é conhecido motivo suficiente para que se prejudique a população do município. Seria desejável que opções de políticas públicas se dessem com mais transparência.
Das manifestações públicas, fica impressão que o governo Camilo Santana não via com os melhores olhos a opção por Maracanaú. Ao menos o secretário da Segurança Pública e Defesa Social, André Costa, demonstrou isso no posicionamento após a exclusão de Maracanaú se consumar.
O secretário estranhou a escolha de Maracanaú. Quis saber os critérios. É legítimo, mas não é inteligente, a depender da forma como é feito. Investimentos federais, sobretudo tão restritos, são disputados a tapa. São cinco municípios – o Brasil tem 5.570. Se você está na lista, é bom não fazer muitas perguntas. Recebe e depois pede detalhes, ora.
A opção por Maracanaú tem lógica. A Região Metropolitana de Fortaleza é das mais violentas do Brasil e Maracanaú se destaca dentro dessa realidade já atípica. Do ponto de vista político, há de se destacar que Maracanaú é o maior município governado pela oposição a Camilo Santana. Disparadamente, o principal entre os raríssimos redutos não alinhados com os Ferreira Gomes. E, de longe, aquele que tem o líder político mais barulhento – o ex-prefeito e deputado federal Roberto Pessoa (PSDB). Se teve alguém cujos desentendimentos com o grupo governista ultrapassou todos os limites de civilidade, foi Pessoa. Quando se dá episódio como esse, claro que esses ingredientes políticos saltam aos olhos e aumentam as interrogações.
Da parte do Governo Federal, faltou explicar melhor o assunto, também. O secretário nacional da Segurança Pública, general Guilherme Theophilo, disse o seguinte: “Foi marcada uma reunião (em 12 de março), e ele (Camilo) não compareceu e não mandou ninguém. Só mandou o secretário da Segurança”. Ora, convenhamos, isso não é motivo. O governador não poder ir à reunião e o município é excluído? Mandou alguém sim: o secretário da área, a pessoa mais indicada à tarefa.
O governador poderia ter ido, para dar peso político e fortalecer o pleito. O Ceará, na última década, foi muito incisivo e articulado para atrair investimentos. Isso não aconteceu agora, justo na área que o Estado mais precisa. Mas, não me parece motivo para decisão tão drástica. A postura do secretário André Costa na reunião pode talvez explicar mais. Porém, isso não é transparente.
Outro aspecto: será possível que o governo Bolsonaro não sabe que Maracanaú tem prefeito adversário do governador? General Theophilo foi candidato a governador seis meses atrás, pelo partido do prefeito de Maracanaú. Não sabe da situação? Faz sentido prejudicar o município por causa da posição do Governo do Estado, que é antagonista político do grupo do prefeito?
Claro que o apoio estadual é importante. Mas, a tentativa de Camilo Santana de remendar a situação mostra que não era uma resistência absoluta. Se a escolha de Maracanaú era a mais adequada tecnicamente, a futrica política – com os mútuos erros – não justifica a troca.