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Usina de corrupção

Toda segunda-feira às 11 horas soam as sirenes da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis, no Sul fluminense. O barulho intermitente deveria marcar o início do treinamento diário dos funcionários para reagir à necessidade de evacuação imediata, uma emergência de extremo risco nas usinas atômicas, mas na prática ele não altera em nada a rotina das poucas pessoas que circulam no local. As obras da usina, mais conhecida como Angra 3, estão paradas desde 2015, quando as investigações da Operação Lava-Jato enredaram o projeto em esquemas de corrupção e as fontes de recursos secaram. Seria até esperado, no conjunto de falcatruas desvendado nos últimos anos em quase todas as estatais, não fosse por um detalhe: Angra 3 começou a ser erguida há quarenta anos e até hoje não está pronta porque, entre outros problemas, a parte do leão dos 9 bilhões de reais lá despejados serviu para enriquecer políticos, entre os quais se destaca o ex-presidente Michel Temer, preso na quinta 21 (e solto quatro dias depois) justamente por causa de contratos suspeitos obtidos por pessoas da sua confiança na construção.

A primeira usina do complexo nuclear de Angra foi inaugurada em 1985 e a segunda, quinze anos depois – ambas com atrasos e denúncias diversas. Mas nada se compara à situação da terceira usina, uma obra que começou em 1984, parou dois anos depois, foi retomada em 2009 e interrompida novamente há quatro anos. O local onde deveria funcionar está tomado por poeira e sucata. Mesmo assim a obra consome, parada, 57,5 milhões de reais por mês, referentes ao pagamento de empréstimos do BNDES e da Caixa Econômica Federal e dos compromissos com as empresas terceirizadas que impedem que o lixo, as chuvas, o vento e a maresia destruam o pouco que saiu do papel.

A Andrade Gutierrez, empreiteira que assumiu o projeto em 1983, ao ir embora deixou para trás o refeitório dos operários e uma estrutura para produção de concreto. O edifício inacabado do reator está coberto por uma tenda do tipo das de circo. Quando VEJA visitou o canteiro abandonado, na segunda 25, não mais que 120 pessoas trabalhavam na manutenção, longe das 4.000 dos bons tempos. Peças que chegaram no começo da construção permanecem armazenadas nas caixas há quatro décadas. “Nada do que foi comprado está obsoleto”, garante o presidente da Eletronuclear, Leonam Albuquerque, no cargo desde que o almirante Othon Pinheiro foi derrubado pelas denúncias de esquemas de corrupção em Angra 3. VEJA

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