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Bancadas rejeitam cargos ofertados pelo Planalto

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Surgiu na Câmara um movimento inusitado. Bancadas estaduais ameaçam devolver ao ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) os cargos federais oferecidos pelo Planalto. Avaliou-se que as poltronas que o governo se dispôs a entregar aos partidos não são atraentes o bastante para justificar o apoio ao governo. Pelo menos três bancadas flertam com a devolução: Paraná, Ceará e Alagoas.

Declarações feitas por Jair Bolsonaro no Chile, nesta quinta-feira, adicionaram veneno na atmosfera que trava a análise da reforma da Previdência. Ao comentar a prisão de Michel Temer, o presidemte disse: "O que levou a essa situação, parece, foram os acordos políticos em nome da governabilidade, mas a governabilidade você não faz com esse tipo de acordo. No meu entender, você faz chamando pessoas sérias e competentes para integrar o seu governo, como eu fiz."

Os líderes enxergaram no comentário um quê de hipocrisia. Sob refletores, Bolsonaro desmerece os políticos e faz cara de nojo para as composições com os partidos. No escurinho, oferece os cargos. Mas exclui da lista os postos considerados mais atraentes —Dnit, Banco do Nordeste e Itaipu, por exemplo. O jogo duplo vai cansando as legendas. E a imprevisibilidade da reação do MDB, partido de Temer, adiciona preocupação num ambiente que já acumula tensões.

Contra esse pano de fundo marcado pela intoxicação, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, recebeu um grupo de congressistas em sua residência funcional na noite desta quinta-feira. Havia entre os presentes vários líderes partidários. Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, presenciou um pedaço da conversa. A descontração estimulou a franqueza. Verificou-se que o governo evolui da fase da desarticulação para o estágio do isolamento político.

Rodrigo Maia estava pilhado. O ex-ministro Moreira Franco, preso na mesma operação policial que passou Michel Temer na tranca, é casado com a sogra do deputado. Moreira estivera em Brasília nas 48 horas que antecederam sua prisão. Hospedara-se na casa de Rodrigo Maia, antes de voar de volta para o Rio, onde seria preso.

Somou-se à alta voltagem familiar uma profunda irritação de Maia com o comportamento do vereador carioca Carlos Bolsonaro. O filho 'Zero Dois' do presidente foi às redes sociais para tomar as dores de Sergio Moro no embate retórico que o ministro da Justiça travara com o presidente da Câmara na véspera.

Carlos Bolsonaro reproduziu nas redes notícia com uma frase de Moro: "Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais." No Instagram, o filho do presidente indagou: "Por que o presidente da Câmara anda tão nervoso?" Em privado, Maia disse cobras e lagartos de Carluxo.

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Inconformado, Rodrigo Maia sinalizou a intenção de abdicar do posto de coordenador político informal do governo. Disse que cabe a Bolsonaro e aos auxiliares dele providenciar os 308 votos necessários à aprovação da reforma da Previdência. Fez observações ácidas no pressuposto de que elas chegariam aos ouvidos de Bolsonaro, pois a líder do governo, Joice Hasselmann (PSL-SP), estava presente.

A exemplo de Maia, os líderes partidários também decidiram lavar as mãos. Nesta quinta, deram de ombros para os apelos do Planalto para que fosse escolhido um relator para a emenda da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Aconselharam o presidente da comissão, o deputado paranaense Felipe Francischini, a acomodar na relatoria um deputado do partido de Bolsonaro, o PSL, por ora o único que se declara governista.

Até o início da semana, o pretexto utilizado pelos partidos para erguer barricadas era a ausência de uma proposta para a reforma da aposentadoria dos militares. Enviado o projeto, cavam-se trincheiras sob o pretexto de que os militares terão mais benefícios do que sacrifícios. O ministro Paulo Guedes (Economia) comprometeu-se a comparecer à CCJ na terça-feira, para dar explicações. Os partidos do centrão ameaçam esvaziar o plenário.

Um dos deputados que participaram da conversa na casa de Rodrigo Maia fez um resumo da noite: "O ambiente na Câmara já foi mais favorável à reforma da Previdência. Mas o governo só faz bobagem. O presidente e seus filhos dão um tiro no pé por dia. Ninguém quer ser confundido com esse bando de loucos. Ainda mais agora, que a popularidade do presidente começou a cair. Se conseguirem arrumar as coisas, nós votamos. Se fosse votada hoje, a reforma não passaria." JOSIAS DE SOUZA

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