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Constrangimento verbal. Toques não consentidos. Abuso sexual. A dura realidade das mulheres que sofrem violência obstétrica

No início de fevereiro, um vídeo que circulou nas redes sociais causou revolta ao mostrar uma mulher em trabalho de parto sendo agredida pelo médico obstetra que a acompanhava na Maternidade Balbina Mestrinho, em Manaus. A agressão, óbvia nas imagens, chocou o mundo. Infelizmente, ela não é uma exceção. A violência obstétrica, termo utilizado para designar maus-tratos - físicos ou verbais - ocorridos durante o parto, nem sempre é tão evidente.

 

Além da humilhação verbal - "Para de gritar! Quando fez não reclamou da dor, né?"- muitas vezes, as grávidas são impedidas, por exemplo, de comer ou beber água por horas, são tocadas sem necessidade ou submetidas a práticas arcaicas que já não são recomendadas há décadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). E o pior: a maioria das mulheres não têm consciência disso. 

 

Muitas vezes, as brasileiras em trabalho de parto não conhecem suas opções e seus direitos. Nesse cenário, especialmente quando há necessidade de intervenção ou medicalização do parto, o profissional da assistência acaba por definir a conduta, sem necessariamente orientar as gestantes. Assim, atropela a relação com a paciente e ignora as suas escolhas - explica a obstetra Ana Fialho.   

 

O filme "O renascimento do parto", lançado em 2013, foi um dos primeiros a tocar no assunto no Brasil. A continuação "O renascimento do parto 2" trata especificamente da violência obstétrica e mostra diálogos tão chocantes quanto comuns em hospitais - sobretudo públicos, mas também privados - brasileiros, revelando um dia a dia cercado de desrespeito contra a mulher, principalmente em partos comandados por homens.

 

Apesar de não serem mais recomendadas, práticas obsoletas continuam sendo feitas regularmente. As mais recorrentes são a episiotomia , uma incisão feita na área entre a vagina e o ânus para ampliar o canal de parto, e a manobra de Kristeller , em que a barriga da mulher é empurrada com força para baixo para acelerar o nascimento. Essa última foi criada pelo ginecologista alemão Samuel Kristeller em 1867 e, 149 anos depois, continua em voga no país, como procedimento de praxe.

 

- Sabemos que a violência contra a mulher é institucionalizada pelo machismo estrutural. Isso não significa que só os homens praticam violência obstétrica, mas que esse tipo de violência, como todos os outros praticados contra a mulher, são legitimados por uma sociedade machista. Essa questão pode ser minimizada pela presença garantida por lei do acompanhante na sala de parto - destaca a obstetra.

 

A educadora perinatal Suzanne Miranda afirma que onde há enfermeiras obstétricas no comando, os partos são mais respeitosos.

- Se livrar dessas tutelas que a sociedade coloca, empoderar a mulher e garantir que ela tenha protagonismo no parto é urgente. O grande problema é a formação dos profissionais brasileiros, que dificilmente trabalham com empatia e evidências obstétricas - diz Suzanne.

Um exemplo clássico no Brasil é o chamado "ponto do marido" - talvez o mais emblemático exemplo deste tipo de violência patriarcal. Trata-se de um ponto feito ao término da sutura de uma episiotomia, onde se "aperta" a entrada da vagina, com o intuito de torná-la mais estreita.

Para muitas psicólogas, as violências podem ser análogas ao estupro, e seus traumas são incontáveis. Há alguns anos, a apresentadora Bela Gil revelou, em seu canal no YouTube, que uma episiotomia feita sem seu consentimento durante o parto da primeira filha, Flor, fez com que ela tivesse problemas na vida sexual durante um ano. O GLOBO

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