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Médicos denunciam loteamento de cargos no Hospital Federal de Bonsucesso

RIO - Um dia após o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciar novas diretrizes para a unidade, o Hospital Federal de Bonsucesso, um dos mais importantes da União no estado, continua sob o controle de um grupo político. Levantamento feito pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e pelo corpo clínico do hospital — referência em transplante renal e cirurgias de alta complexidade — mostra que há, pelo menos, 44 funcionários contratados, boa parte deles em atividades de gerência, que são ligados ao deputado federal Wilson Beserra (MDB).

 

Mandetta, que esteve quarta-feira no Rio, exonerou a diretora do hospital, Luana Camargo da Silva, que era acusada pelos profissionais da instituição de ser da cota do parlamentar e de ter contribuído para a precarização dos serviços prestados à população. Recentemente, ela teria gastado cerca de R$ 156 mil para fazer uma festa para comemorar os 71 anos do HFB, com bufê e tendas climatizadas. Dentro do hospital, vários setores, no entanto, estariam sem ar-condicionado, causando sofrimento a pacientes.

 

Segundo o ministro, militares vão apoiar, com sua expertise, a melhoria da gestão do Hospital de Bonsucesso, principalmente atuando em compras e licitações. Representantes de hospitais privados também vão contribuir, inclusive com recursos. Mas, por enquanto, ainda são nomes que sempre estiveram ao lado de Beserra, inclusive trabalhando na campanha eleitoral dele, que ainda estão à frente do hospital. Entre os nomes denunciados pelos médicos, 41 que chegaram ao hospital através da empresa Nova Rio Serviços Gerais.

 

Mas há exceções. Considerado braço direito do deputado, Caio Ferreira Pereira foi contratado por uma fundação para atuar no assessoramento da direção do HFB. Sua página no Facebook revela que ele é advogado e que trabalhou na prefeitura de Seropédica, reduto de Beserra. Segundo médicos, Caio era uma espécie de articulador da gestão de Luana. Era ele que analisava os documentos para que a diretora assinasse e também fazia vistorias no hospital. No ano passado, uma servidora da unidade chegou a denunciá-lo na Delegacia da Mulher por agressão, contando que o assessor a empurrou quando o questionou sobre problemas no hospital.

 

Beserra indicou também Franz Eugenio Villa, que trabalhou na sua campanha, como assessor da direção. Em redes sociais, ele aparece pedindo apoio para o então candidato a deputado federal. Ele disse ontem que chegou a pedir exoneração do cargo, no dia 14 de janeiro, depois que veio à tona a ligação entre Luana e Beserra, mas que permaneceu na função porque a ex-diretora, na ocasião, não aceitou seu pedido.

Lucimar Simas da Silva Tito, nomeada para o cargo comissionado de diretora administrativa do Bonsucesso, também já trabalhou na prefeitura de Seropédica, onde foi subsecretária municipal de Receita. A própria Luana também é oriunda do município, base eleitoral de Beserra, que não se reelegeu. Sem experiência em administração hospitalar, Luana é farmacêutica por formação e sua única experiência na área foi a coordenação da farmácia de um posto de saúde em Seropédica.

Com exceção de Franz, O GLOBO não conseguiu localizar os principais nomes do grupo de Beserra, nem o próprio político. Mesmo Franz, que seria um dos mais próximos ao parlamentar, disse que não tinha o contato do deputado federal. O jornal também tentou todos os telefones cadastrados em nome da Nova Rio, mas não conseguiu falar com os responsáveis.

Procurado para falar sobre a influência da legenda dentro do Hospital Federal de Bonsucesso, o presidente do MDB fluminense, deputado federal Leonardo Picciani, não atendeu o celular. Um funcionário do gabinete dele, sem se identificar, disse que não conhecia Beserra:

— Ele não é uma pessoa de partido. Nunca o vi em nenhuma reunião de bancada. Nem sei quem é.

Vice-presidente do corpo clínico do HFB e delegado da Federação Nacional dos Médicos, Júlio Noronha disse que Luana sustentou, durante o período em que esteve lá, o grupo ligado ao deputado federal:

— O levantamento mostra o claro loteamento de cargos dentro do hospital desde que Luana assumiu a direção da unidade.

O Ministério da Saúde informou que essa e outras denúncias, assim como toda a documentação fornecida pelos médicos, serão analisadas pela equipe do governo que “iniciou esta semana uma ação integrada para melhorar a gestão, o atendimento e os indicadores clínicos dos seis hospitais federais no Rio”. O órgão ressaltou que “os contratos de fornecedores e a composição dos recursos humanos dessas unidades serão revistos para a adequação das melhores práticas e retorno para a população”.

O nome de quem assumirá a direção do HFB será definido na próxima semana. Até lá, o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Francisco de Assis Figueiredo, assume interinamente o cargo. o globo

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