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Macri seduz os empresários - até os brasileiros

Como a política econômica liberal do presidente argentino Mauricio Macri abriu caminho para tirar o país do isolamento nos mercados internacionais

Mariana Queiroz Barboza ( O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. )

No fim de janeiro, ao sair de uma conversa de 15 minutos com o novo presidente da Argentina, o liberal Mauricio Macri, no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, o presidente global da Coca-Cola, Muhtar Kent, fez um anúncio. Nos próximos quatro anos, a companhia vai investir US$ 1 bilhão no país. “Isso mostra mais uma vez nosso comprometimento com o desenvolvimento econômico e social na Argentina”, disse Kent. A Coca-Cola, que, em 2015, colocou US$ 16 milhões na operação argentina, vai construir uma nova fábrica de engarrafamento, dois centros de distribuição e sinalizou interesse na compra de empresas locais do setor não-alcoólico. De Davos, também saíram encantados com Macri o presidente da Alphabet, Eric Schmidt, e a chefe operacional do Facebook, Sheryl Sandberg, que discutiram planos para abrir novas vagas de trabalho e ampliar o alcance da internet no país.

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EM ALTA 
Em dois meses na presidência da Argentina, Macri (acima) reconquistou a
confiança dos investidores. Abaixo, Muhtar Kent, presidente mundial da 
Coca-Cola, que anunciou que injetará US$ 1 bilhão no país 

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Em dois meses na Presidência, Macri não decepcionou o mercado. Retomou as negociações com os chamados “fundos abutres”, retirou subsídios e barreiras comerciais e trouxe o peso a um valor mais próximo à realidade. A partir de março, entrará em atividade uma agência para facilitar a entrada de investimentos num país que, até o ano passado, só recebia 4% de todo o dinheiro investido no mundo. É tudo o que os empresários queriam.

As companhias brasileiras pretendem acompanhar o movimento. Na quinta-feira 18, o governo de Dilma Rousseff apresentou a Macri uma proposta de livre-comércio para o setor automotivo. Além disso, companhias como a JBS e a Marcopolo já demonstraram interesse em aumentar sua participação por lá. Há 24 anos presente no país vizinho, a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, investiu mais de US$ 450 milhões em aquisições nos últimos cinco anos devido às barreiras impostas por Cristina Kirchner para a importação e passou a produzir localmente mais de 17 mil toneladas de alimentos por mês. “Agora se abrem outras possibilidades, tanto de exportar quanto de importar mais, que vejo com bons olhos”, disse à ISTOÉ Alexandre Borges, presidente da BRF para a América Latina. “A Argentina é um país mais atraente para o investimento, mas que ainda vive um momento de turbulência.” O executivo cita a inflação de quase 30% em janeiro e indicadores preliminares que mostram retração do varejo no mesmo mês.

“A situação macroeconômica segue bastante complicada, mas há muita expectativa de que o novo presidente possa melhorá-la por conhecer bem o ambiente de negócios e entender que esses investimentos são fundamentais para o interesse do país”, diz Camilo Tiscornia, diretor da C&T Assessores Econômicos, de Buenos Aires. “O governo anterior era hostil, sobretudo, em relação às empresas estrangeiras.” Nos últimos quatro anos na Casa Rosada, para citar alguns exemplos, Cristina nacionalizou a petrolífera YPF, ampliou o controle estatal sobre o mercado de capitais e sobre a mídia. No caminho para tirar Buenos Aires do isolamento, um acordo com os credores que não aceitaram as reestruturações propostas após o calote de 2001 é vital. Para Carlos Caicedo, analista de América Latina da consultoria de risco IHS, de Londres, o país deverá se acertar com eles até junho e, então, liberar o acesso para os mercados internacionais, abrindo espaço para novos investimentos e para a expansão do crédito, hoje em 14% do PIB. “2016 será um ano de transição, o crescimento virá no ano que vem”, afirma. “Ninguém duvida das credenciais pró-mercado de Macri e de sua previsibilidade, o que é fundamental para os investidores.”

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Apesar do ambiente otimista, Macri tem outros dois grandes desafios pela frente. O primeiro deles será convencer o Congresso, que voltará às atividades em março, a aceitar pagar mais de US$ 7 bilhões aos fundos estrangeiros e aprovar uma série de reformas liberais. Ali, a oposição kirchnerista, apesar de rachada e cada vez mais enfraquecida, ainda é maioria. O segundo dependerá do perfil conciliador que o presidente tem demonstrado até agora. Para inspirar confiança, Macri precisará manter a paz numa sociedade muito politizada e onde os sindicatos dos trabalhadores são capazes de promover greves e paralisações de alcance nacional. Em dezembro, ele viu uma pequena demonstração disso. Milhares de manifestantes foram às ruas contra a revisão de 24 mil postos no funcionalismo público e a suspensão de 11 mil concursos via decreto presidencial. Para completar, Macri depende do andamento das negociações salariais para conter a pressão inflacionária. Esse será seu verdadeiro teste.

Fotos: Natacha Pisarenko/AP Photo / ISTOE

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