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Só falta Haddad prometer embaixada na Venezuela para Gleisi

Depois de jogar para debaixo de um ônibus as ideias ruins do economista do PT Marcio Pochmann e de sinalizar que o espaço de Dilma Rousseff em seu governo seria o de senadora por Minas, só falta a Fernando Haddad prometer a Gleisi Hoffmann a embaixada do Brasil na Venezuela.

Se passar para o segundo turno, em breve o mais tucano dos petistas vai acabar na cama com a XP Investimentos. Desde já, Haddad procura evitar o mesmo destino da ex-presidente Dilma, de ter de fazer o contrário do que prometeu no pós eleição.

Sob a orientação do pragmatismo de Lula e, ao que parece, de suas próprias convicções e instintos, o ex-prefeito de São Paulo já começou a piscar na direção de quem precisa.

Em sabatina Folha/UOL/SBT nesta semana, rasgou elogios ao presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, aplainou o terreno na direção de Ciro Gomes, de tucanos e até do MDB. Segundo ele, haverá espaço em seu governo para todos os que concordarem com o programa.

Como aperitivo do que vem por aí, em carreata há alguns dias em Alagoas com Renan Calheiros Filho (candidato à reeleição no Estado) e o pai “golpista”, Haddad fez em vídeo elogios esfuziantes à dupla emedebista de fazer corar até os mais realistas.

Mas foi o chega para lá na ex-presidente e em Marcio Pochmann que abriu a temporada de caça a eleitores moderados e desconfiados do PT da era Dilma, a pior e mais destruidora fase para a economia desde o lançamento do real.

Economista da Unicamp, Pochmann é um dos autores do plano de governo do PT e vive dando entrevistas com esse chapéu. Entre outras, diz que a reforma da Previdência não é urgente, que é um equívoco achar que ela resolve o problema fiscal e que a idade mínima não é questão central.

Além de frisar que Pochmann é apenas “1 entre 300” que palpitaram no programa do partido, Haddad disse que há pontos a considerar no projeto da Previdência quase pronto para votação na Câmara. E que nada, nem a idade mínima, será tabu na negociação.

Em seu último discurso em São Bernardo do Campo antes de ser preso e ao lado de Gleisi, Lula escondeu Haddad no palanque e exaltou como promessas de futuro os socialistas Guilherme Boulos (Psol) e Manuela d'Ávila (PC do B).

O jogo de cena ajudou a mobilizar petistas raiz e manteve aceso o “Lula Livre”. Ao mesmo tempo, escusou Haddad de ter que radicalizar, o que só complicaria sua vida na busca por eleitores do centro.

Um Haddad “de bem com todos” —sobretudo com um mercado que pode tornar sua vida um inferno— faz sentido e pode viabilizar a derrota de Jair Bolsonaro no segundo turno.

Mas a maior dificuldade à frente do petista talvez seja levar o próprio partido a votar reformas para recolocar o país nos eixos. Se não o fizer, o que convenceria os outros a aprovar medidas impopulares que nem o PT deseja?

Haddad pode querer ir para a cama com o mercado. Mas não será difícil acabar acordando com seu inimigo mais íntimo.

Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso. FOLHA DE SP

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