Governo emite alerta de emergência hídrica em 5 estados e vai criar comitê para acompanhar setor elétrico
Comitê responsável pelo monitoramento do setor elétrico, o CMSE, se reuniu nesta quinta-feira (27), em carátere extraordinário, para avaliar a situação do sistema energético e concluiu que a situação é delicada.
Segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), que faz a gestão do sistema, o volume de chuva se manteve baixo do normal em maio, e o país entra no período seco em situação delicada no que se refere a oferta de água. A seca projetada para o período de setembro a maio é a pior em 91 anos.
Neste ano, a previsão é que a seca será especialmente severa nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Diante desse cenário, ficou acertado que será criado um comitê de acompanhamento da crise. Fonte ouvida pela Folha explica que esse grupo será responsável por monitorar a seca, o nível dos reservatórios e a oferta de energia, bem como a adoção de medidas para garantir o abastecimento.
A avaliação é que ainda não é momento para propor medidas de racionalização do consumo, como campanhas de economia de energia, muito menos falar em racionamento. Quem acompanha o setor elétrico lembra que essa é uma palavra maldita, especialmente às vesperas de uma eleição.
O apagão de 2001, seguido de racionamento, é apontado até hoje como um dos fatores para a derrota do PSDB e a primeira vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 2002.
Na reunião desta quinta também foi decidido que é preciso priorizar o uso da água para garantir a geração de energia nas usinas consideradas estratégicas para o abastecimento nacional e que estão localizadas justamente nessas regiões.
A recomendação é que se retenha mais água nas usinas hidrelétricas Jupiá, Porto Primavera, Ilha Solteira, Três Irmãos, Xingó, Furnas e Mascarenhas de Moraes.
Em nota divulgada no site do MME (Ministério das Minas e Energia) informa que "tendo em vista os estudos apresentados pelo ONS, e com vistas a garantir a governabilidade das cascatas hidráulicas no País, o CMSE reconheceu a importância da implementação das flexibilizações das restrições hidráulicas relativas às usinas hidrelétricas Jupiá, Porto Primavera, Ilha Solteira, Três Irmãos, Xingó, Furnas e Mascarenhas de Moraes".
Esse tipo de medida é tomada em momentos de secas mais severas porque afeta outras atividades. Como reduz o volume dos rios, tende a limitar a pesca, interromper o transporte fluvial e pode, inclusive, afetar a captação de água para irrigação e consumo humano.
Dentro dessa perspectiva, o SNM (Sistema Nacional de Meteorologia) emitiu o primeiro alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro, na região da Bacia do Paraná, que abrange os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, informou o Ministério da Agricultura.
"Estudos realizados pelo SNM de acompanhamento meteorológico para o Setor Elétrico Brasileiro alertam que as perspectivas climáticas para 2021/2022 indicam que a maior parte da região central do país, a partir de maio e até final de setembro, entra em seu período com menor volume de chuvas (estação seca)", disse o ministério em uma nota conjunta com institutos que integram o sistema.
A previsão climática elaborada por diferentes institutos que monitoram o clima indica para os meses de junho, julho, agosto de 2021 a mesma tendência, ou seja, pouco volume de chuva na maior parte da Bacia do Rio Paraná. Essa previsão é consistente com a de outros centros internacionais de previsão climática.
Na nota, a pasta informou ainda que a análise das chuvas entre outubro de 2019 a abril de 2021 para a Bacia do Rio Paraná indica que, com exceção de alguns meses (dezembro de 2019, agosto de 2020 e janeiro de2021), durante a maior parte do período houve falta de chuvas, principalmente a partir de fevereiro deste ano.
Criado em maio, o SNM é coordenado pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia), com a participação da Ana (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) e o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais)
O MME afirmou, ainda, a importância da articulação institucional, não limitada apenas ao setor elétrico brasileiro, para que para parantir o suprimento de energia elétrica no país em de 2021.
(Com Reuters)
Coronavac desprezada por Bolsonaro evitaria pelo menos 80 mil mortes, diz pesquisador
O Brasil teria evitado pelo menos 80.300 mortes até maio deste ano se o governo Jair Bolsonaro tivesse fechado em outubro de 2020 um contrato com o Instituto Butantan para a compra de 100 milhões doses da Coronavac, que seriam entregues até este mês.
É o que aponta cálculo feito pelo professor Pedro Hallal, da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.
A conta foi baseada no depoimento de Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, à CPI da Covid e considera que o Ministério da Saúde poderia ter recebido 49 milhões de doses a mais do que os 51 milhões previstos para serem entregues até o final de maio.
O estudo faz estimativa de 81.500 óbitos a menos com margem de erro que varia de 80.300 a 82.700.
O Brasil atingiu nesta quarta-feira (26) a marca de 454.623 óbitos em decorrência da Covid.
À CPI da Covid nesta quinta-feira (27) Dimas Covas afirmou que a oferta de 100 milhões de doses da vacina contra a Covid, que é produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac, não foi fechada em outubro por entraves políticos e burocráticos.
De acordo com Covas, após o fracasso da negociação naquela época, nova proposta foi feita ao Ministério da Saúde em dezembro, mas não era mais possível entregar a totalidade das doses até maio, mas sim por volta de agosto.
Por fim, o primeiro contrato assinado com o governo foi fechado em dezembro e previu a entrega de 46 milhões de unidades da Coronavac até abril deste ano. O segundo foi assinado em fevereiro prevendo a entrega de mais 54 milhões.
Segundo declaração de Covas, pelo acordo acertado pelo governo federal com o instituto paulista, 51 milhões de doses da Coronavac terminarão de ser entregues até o final de maio. Logo, o Brasil poderia ter garantido mais 49 milhões de doses nesse período não fossem os impasses.
Se tivesse recebido esse volume a mais teria evitado, além das cerca de 81.500 mortes, por volta de 174.642 internações em UTIs (unidades de terapia intensiva), segundo cálculo de Hallal.
Em outro cenário, caso o governo federal tivesse aceitado a oferta da Pfizer em agosto do ano passado, cerca de 14 mil mortes teriam sido evitadas com intervalo de confiança entre 5.000 e 25 mil óbitos.
Segundo depoimento à CPI do gerente-geral da farmacêutica na América Latina, Carlos Murillo, 4,5 milhões seriam entregues no país de dezembro a março pela oferta feita ao Brasil no meio do ano passado.
O acordo atual com a Pfizer prevê 100 milhões de doses até o final deste ano. Ou seja, segundo estimativa de Hallal, 95.500 mortes teriam deixado de ocorrer caso o Brasil tivesse fechado os acordos com a Pfizer e com o Butantan mais cedo.
Para o cálculo, o pesquisador usou os seguintes parâmetros: um terço da população com anticorpos, letalidade do coronavírus de 1% e eficácia da vacina de 50% no caso da Coronavac e 94% para a Pfizer.
Com base no índice da população com anticorpos e na letalidade da doença, chega-se a um total de mortes esperado caso o país tivesse recebido as doses previstas. Deste número descontam-se os óbitos que poderiam ter sido evitados com base na eficácia da vacina e chega-se ao resultado.
Nesta quinta-feira, o diretor do Butantan afirmou que as negociações para a compra da Coronavac evoluíram ao longo do mês de outubro. O contrato inicial acordado previa a aquisição de 100 milhões de doses pelo Ministério da Saúde. No entanto, sem nenhuma explicação, esse contrato foi retirado e o governo afirmou que compraria 46 milhões.
Foi nesse momento que o presidente Bolsonaro afirmou a apoiadores, sendo gravado, que não iria comprar a vacina chinesa.
"Infelizmente, essas conversações não prosseguiram, porque houve, sim, aí, uma manifestação do presidente da República, naquele momento, dizendo que a vacina não seria, de fato, incorporada, não haveria o progresso desse processo", afirmou Covas à comissão no Senado.
"Poderíamos ter iniciado a vacinação antes do que começou? Nós já tínhamos as doses, estavam disponíveis. E eu, muitas vezes, declarei de público que o Brasil poderia ser o primeiro país do mundo a começar a vacinação, não fossem os percalços que nós tínhamos que enfrentar durante esse período, tanto do ponto de vista do contrato, como do ponto de vista também regulatório."
A Coronavac começou a ser aplicada em 17 de janeiro, no mesmo dia em que a Anvisa deu autorização para o uso emergencial da vacina.
Prevenção das doenças infecciosas
28 de maio de 2021 | 03h00
Na última década o mundo observou a reincidência de doenças até então erradicadas por campanhas de vacinação em massa, apoiadas por políticas públicas de saúde – o surto de gripe aviária, em 2005, que infectou pessoas no Vietnã, na Tailândia, na Indonésia e no Camboja; o recente ressurgimento de ebola na República Democrática do Congo, que já havia sido cessado em novembro de 2020; a volta da febre amarela no Brasil; além do reaparecimento de poliomielite e sarampo, respectivamente erradicados em 1989 e 2016 no Brasil.
Todas essas ocorrências, consideradas doenças infecciosas emergentes e reemergentes, nos mostram a necessidade de darmos mais atenção ao tema, especialmente num período pandêmico, em que os sistemas de saúde estão sobrecarregados. Diversos fatores devem ser considerados para o aumento da incidência dessas patologias nas populações: o surgimento ou identificação de novos problemas de saúde, novos agentes infecciosos, a mudança no comportamento epidemiológico de doenças já conhecidas, além da disseminação de desinformação de movimentos antivacina.
No Brasil, grande parte das condições que favorecem a emergência e reemergência das doenças infecciosas e parasitárias está relacionada a fatores sociais, políticos, demográficos, econômicos e ambientais. Ou seja, é urgente que se discutam os desafios postos à saúde pública, bem como o reforço e a revalorização da vigilância epidemiológica. Em paralelo, em tempos como o que estamos vivendo, são as desigualdades sociais as primeiras a ser explicitadas em âmbito global quanto ao maior risco de exposição a doenças e menores condições de acesso a tratamentos.
Olhando para trás, as grandes epidemias e os surtos enfrentados e superados globalmente transformaram as sociedades. No Rio de Janeiro, em 1904, quando a então capital federal era constantemente vitimada por surtos de febre amarela, varíola, peste bubônica, malária, tifo e tuberculose, a nova regulamentação de vacinação obrigatória, somada às condições precárias do sistema de saúde e política de sanitarista da época, culminou na convulsão da população numa manifestação que ficou historicamente conhecida como a Revolta da Vacina. Historiadores argumentam que não foi apenas a obrigatoriedade da vacina que motivou os protestos, mas, sim, uma entre várias medidas que visavam a disciplinar a população mais pobre, erradicando-a das áreas centrais.
Como desdobramento, a lei foi modificada e a utilização da vacina tornou-se opcional, mas a forma como o Brasil passou a lidar com a saúde pública e sua comunicação voltada para a conscientização da população nunca mais foram as mesmas. A utilização de vasto material informativo, como cartazes, folhetos e manuais; a adesão de celebridades às campanhas em TV e rádio; a criação dos dias nacionais de vacinação e do personagem Zé Gotinha; tudo isso foram novas formas encontradas pelo País de promover a vacinação e erradicar as doenças infecciosas da época.
Hoje, grandes e notórios passos já foram dados no que diz respeito à pesquisa brasileira. Estamos entre os 15 maiores produtores de ciência do mundo e nas áreas relacionadas às doenças infecciosas somos um dos primeiros. O mineiro Vital Brazil, que fundou o aclamado Instituto Butantan (São Paulo), que este ano comemorou 120 anos, liderou o combate a diversas doenças, como febre amarela, cólera, varíola e peste bubônica. Foi pioneiro nas pesquisas e na produção de soros específicos contra veneno de animais peçonhentos.
Referência em pesquisa biomédica, o instituto é o principal produtor de imunobiológicos no Brasil, além ser o responsável por grande porcentagem da produção de soros hiperimunes e pelo grande volume da produção nacional dos antígenos vacinais que compõem as vacinas utilizadas no Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde.
Atualmente, o Instituto Butantan dedica-se à produção da vacina contra a covid-19 e, até o momento, já entregou 22,6 milhões de doses do imunizante Coronavac, produzido em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
E será neste segundo ano de pandemia de covid-19, período em que o Brasil vive um colapso do sistema de saúde, recordes de mortes diárias e nas médias móveis de transmissão da doença, que a Fundação Bunge homenageará profissionais da área das Ciências Biológicas, Ecológicas e da Saúde, especificamente os dedicados à prevenção de doenças infecciosas, um dos temas contemplados pela 65.ª edição do Prêmio Fundação Bunge.
Hoje, com o País em isolamento em meio ao pior momento da pandemia do novo coronavírus, ignorar a gravidade da situação ou aumentar seu risco pode ser fatal. Como previu o Nobel escocês de Economia Angus Deaton em seu livro A Grande Saída, de 2013: “Mais de uma vez na História da humanidade a razão e a ciência provaram ser as armas mais apropriadas e, no fim das contas, bem-sucedidas no combate a inimigos invisíveis”. É preciso valorizar o trabalho da saúde pública, das pesquisas, dos cientistas e dos profissionais da Saúde.
CURADOR DOS PRÊMIOS FUNDAÇÃO BUNGE, É PRESIDENTE DO CONSELHO SUPERIOR DE ESTUDOS AVANÇADOS (CONSEA-FIESP)
'Pelo amor de Deus, Omar Aziz, encerra logo essa CPI!', pede Bolsonaro
27 de maio de 2021 | 23h32
BRASÍLIA E SÃO PAULO - O presidente Jair Bolsonaro criticou nesta quinta-feira, 27, o presidente do CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), e pediu “pelo amor de Deus” que ele encerre logo os trabalhos da comissão. “Vai plantar batata, ô CPI!”, reclamou Bolsonaro. Em transmissão ao vivo pelas redes sociais, desta vez de Matucará (AM), o presidente também atacou Aziz pela apresentação de um projeto de lei que tipificava como crime a prescrição de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais, sem comprovação científica.
“Ou seja, aquilo que eu mostrei para a ema (cloroquina), se um médico prescrevesse aquilo para mim (seria condenado a) três anos de cadeia”, afirmou o presidente, lembrando o episódio no qual apareceu com uma caixa de cloroquina diante das emas que ficam no jardim do Palácio da Alvorada.
Bolsonaro disse que o projeto de Aziz não era apenas destinado aos médicos, mas tinha o objetivo de atingi-lo. "Se eu voltasse a mostrar aquilo (cloroquina) para a ema, eu pegaria três anos de cadeia. Parabéns, Aziz! Que vergonha, hein?", ironizou. “Pelo amor de Deus, encerra logo essa CPI e vem aqui fazer outra coisa. Ficar no Senado? Pelo amor de Deus...”
O presidente afirmou que 30 minutos após ter criticado a proposta nas redes sociais, Aziz a retirou. “Esse é o presidente da CPI”, desdenhou Bolsonaro ao dizer que, se o projeto fosse aprovado, vetaria. “Omar Aziz, não quero entrar em detalhes sobre como era a saúde do seu Estado quando você era governador”, provocou.
Ao criticar a CPI, criada para investigar ações e omissões do governo no combate à pandemia, Bolsonaro defendeu a convocação do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. “Por que não convocam o Malafaia? É uma das pessoas com quem eu mais converso. Estão com medo dele? Ou dos evangélicos?, perguntou o presidente.
Aziz se negou a pôr em votação um requerimento do senador Marcos Rogério (DEM-RO), vice-líder do governo, que pretendia convidar Malafaia a depor. “Vem com papinho (que não dá para convocar) porque é um assessor espiritual. Ah, vai plantar batata, ô CPI, vai plantar batata!”, esbravejou. “Ele fala sobre muita coisa comigo”.
Saltitante
Logo em seguida, Bolsonaro disse ter visto um senador “saltitante” na CPI querendo convocá-lo. “Ô, saltitante, ‘tá’ de brincadeira, né? Não tem o que fazer não, ô, saltitante?”. Apesar de não citar o nome do parlamentar, mas, sim, o seu Estado (Amapá), a ironia tinha endereço certo: quem protocolou pedido para convocar Bolsonaro foi o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O requerimento, porém, não chegou a ser votado.
Na live transmitida diretamente de Matucará, Bolsonaro afirmou ter encontrado índios no Amazonas que “detestam” o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e outros que gostam.
“Fico do lado daquele pessoal que não é muito chegado em ICMBio para deixar bem claro”, disse ele, que exibia adereços indígenas no braço. “Nós devemos redirecionar esse instituto para aquilo que os índios querem de verdade. A gente sente na região que algumas comunidades sofrem uma influência, uma verdadeira massificação por parte de ‘brancos’, vamos assim dizer, e por parte de instituições”.
Bolsonaro visitou a região nesta quinta-feira (27) e vai pernoitar em Santa Isabel do Rio Negro (AM), só retornando a Brasília na sexta. Ele relatou que, em uma das comunidades, alguns índios contraíram coronavírus e se curaram. “Eu perguntei: ‘Foi antes da vacina?’. (E eles responderam que) foi antes da vacina. Eles já foram vacinados também. E não morreram por que, né?”, questionou o presidente. “Pessoal, anota aí: segundo eles, os tais índios tomaram chá de carapanaúba, saracura ou jambu”.
O presidente disse também ter visitado outra comunidade indígena na qual três pessoas morreram em decorrência de covid. Irônico, afirmou que, como o tratamento com chá não tem comprovação científica, a CPI poderia convidar índios para prestar depoimento. “E levar, quem sabe, o chá”. / Colaborou Rafael Beppu
Bolsonaro volta ao STF contra decretos estaduais que impõem restrições na pandemia
Rayssa Motta / o estado de sp
27 de maio de 2021 | 21h06
Em mais uma ofensiva contra governadores, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) entrou nesta quinta-feira, 27, com uma nova ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra medidas restritivas impostas pelos Estados para conter o avanço da pandemia. O pedido é para derrubar decretos de Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Norte, classificados como ‘desproporcionais’.
Ao STF, o governo argumenta que os Estados não têm autorização para determinar, unilateralmente, ‘toques de recolher’ e ‘lockdown’. O presidente afirma que essas decisões precisam passar pelo Poder Legislativo. “A decretação de medidas de fundo sanitário com trágicas consequências para os direitos das pessoas somente pode ser viabilizada por meio de instrumentos institucionais compatíveis com a democracia e o Estado de Direito”, diz um trecho da ação. O documento é assinado pelo próprio Bolsonaro e pelo advogado geral da União, André Mendonça.
Na avaliação de Bolsonaro, os decretos afrontam os direitos fundamentais ao trabalho, à livre iniciativa e de locomoção como ‘meios de subsistência do cidadão e de sua família’. O presidente afirma que governadores e prefeitos têm demonstrado ‘incapacidade de harmonização do resguardo da saúde pública com outros direitos que são igualmente essenciais’.
“Essas iniciativas abdicaram do dever de ponderação entre bens constitucionais relevantes, conferindo à tutela da saúde pública, de modo genérico e totalizante, um valor absoluto que fulmina de modo radical as necessidades de sustento econômico das pessoas”, escreve.
Em março, Bolsonaro já havia entrado com uma ação para tentar derrubar decretos da Bahia, do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul que determinaram ‘toques de recolher’ como estratégia de enfrentamento da covid-19. O pedido foi rejeitado pelo ministro Marco Aurélio Mello. Na ocasião, o decano do STF entendeu que caberia à AGU formalizar o pedido. A pasta é responsável por representar judicialmente os interesses do Planalto.
Desde o início da pandemia, o STF tem sido acionado para arbitrar a briga travada pelos entes federativos em torno das estratégias para conter o surto do novo coronavírus.Em abril do ano passado, os ministros decidiram que governantes locais têm autonomia para adotar medidas de quarentena e isolamento social, sem isentar o governo federal de agir na crise sanitária. Na nova investida contra os governadores, Bolsonaro deixa claro que não está contestando a prerrogativa, mas argumenta que ‘algumas dessas medidas não se compatibilizam com preceitos constitucionais inafastáveis’.
“Mais do que isso, essas medidas ignoraram a necessidade de promover a harmonização da proteção da saúde com outros direitos fundamentais que compõem a dimensão do mínimo existencial das pessoas, dentre eles o direito de trabalhar para a obtenção do sustento vital. Em decorrência de atos como o ora questionados, estima-se que milhões de brasileiros encontram-se impedidos pelo poder público local de exercer um dos mais básicos direitos do ser humano, que é o de lutar pela subsistência própria e familiar”, afirma o presidente.
Embora apenas 10% da população tenha tomado as duas doses da vacina contra a covid-19 no Brasil, a ação também diz que o avanço da imunização torna ainda mais ‘excessiva’ a imposição de ‘medidas extremas, que sacrificam direitos e liberdades fundamentais’.
No início do mês, o presidente chegou a ameaçar baixar um decreto para impedir governadores e prefeitos de endurecerem as medidas de isolamento social.
Mais de 456,6 mil pessoas já perderam a vida por covid-19 no Brasil
Desde o início da pandemia de covid-19, 456.674 pessoas perderam a vida para a doença no Brasil. Entre ontem e hoje, foram registrados 2.245 óbitos – ontem, o número estava em 454.429. Ainda há 3.759 mortes em investigação. O termo é empregado pelas autoridades de saúde para designar casos em que um paciente morre, mas a causa continua sendo apurada mesmo após a declaração do óbito.
Já o total de pessoas infectadas desde o início da pandemia chegou a 16.342.162. Nas últimas 24 horas, foram confirmados 67.467 casos de covid-19. Ontem, o painel de informações do Ministério da Saúde trazia 16.274.695 casos acumulados. O país tem ainda 1.099.196 casos ativos, em acompanhamento.
O número de pessoas que pegaram covid-19, mas se recuperaram totalizou 14.786.292, o que corresponde a 90,5% do total de pessoas infectadas com o vírus. Os dados são no balanço diário do Ministério da Saúde sobre a pandemia, que foi divulgado na noite desta quinta-feira (26). A atualização é produzida com base em informações disponibilizadas pelas secretarias estaduais de Saúde.
Os números são em geral mais baixos aos domingos e segundas-feiras em razão da menor quantidade de funcionários das equipes de saúde para fazer a alimentação dos dados. Já às terças-feiras os resultados tendem a ser maiores pelo envio dos dados acumulados.
Estados
Entre os estados com maior número de mortes por covid-19, o primeiro é São Paulo, com 109.850. Em seguida, vêm Rio de Janeiro, com 50.125; Minas Gerais, com 39.784; Rio Grande do Sul, com 27.868; e Paraná, com 25.966.
Já na parte de baixo da lista, com menos vidas perdidas para a pandemia, estão Roraima, com 1.612 óbitos; Acre, com 1.652; Amapá, com 1.683; Tocantins, com 2.825; e Alagoas, com 4.679.
Vacinação
Até o momento, foram distribuídas a estados e municípios 96,5 milhões de doses de vacinas contra a covid-19. Deste total, foram aplicadas 60,8 milhões de doses, sendo 41,3 milhões da primeira e 19,5 milhões da segunda dose.
Edição: Nádia Franco / AGÊNCIA BRSIL