Consultor diz à CPI da Covid ter visto erros em documentos de importação da Covaxin
André de Souza / O GLOBO
RASÍLIA — O consultor do Ministério da Saúde William Amorim Santana, técnico da Divisão da Importação da pasta, apontou problemas em um documento da compra da vacina Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech e representada no Brasil pela empresa Precisa, em depoimento à CPI da Covid no Senado nesta sexta-feira.
Santana disse que, após a primeira versão do documento de importação, pediu por telefone a correção dos erros. A segunda versão, porém, ainda tinha problemas, como a previsão de pagamento antecipado, enquanto o contrato estabelecia que isso ocorreria apenas depois da entrega. Assim, foi enviada a terceira versão corrigida.
— Eu telefonei e pedi a correção. A primeira vez eu liguei e pedi para corrigir. A segunda vez, não foi corrigido, eu mandei por e-mail, para deixar registrado — disse William, acrescentando: — Pedi que se atentasse, que no contrato não tinha essa cláusula (pagamento antecipado).
O valor negociado foi de 15 dólares por dose. Como eram 3 milhões, isso totalizava 45 milhões de dólares. A segunda versão, porém, era num valor maior, porque o frete o seguro estavam sendo cobrados à parte, totalizando quase 46 milhões de dólares. Isso foi corrigido na terceira versão, em que voltou a aparecer o valor correto.
As conversas dele foram com Emanuela Medrades, diretora técnica da Precisa:
— Ela sempre se prontificou a fazer as correções — disse Santana.
O funcionário é subordinado a Luis Ricardo Miranda, o irmão do deputado Luis Miranda (DEM-DF) que disse ter sofrido "pressão atípica" de seus superiores hierárquicos, dentre eles Roberto Dias, então diretor de Logística do Ministério, para aprovação rápida da negociação com o laboratório.
William disse ter visto a primeira versão do documento por meio de um link do Dropbox enviado por e-mail em 18 de março. O senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) mencionou uma perícia entregue pela Precisa dizendo que o link, no qual não está disponível o documento atualmente, nenhum arquivo foi excluído ou modificado, ou seja, nunca esteve lá. O senador disse também que outro laudo atesta que o documento foi criado só no dia 19. Em resposta, William reafirmou ter visto documento no dia 18, embora não tenha baixado.
Questionado por que inclui o documento no sistema interno do Ministério da Saúde apenas no dia 22 de março, ele explicou que se sentia inseguro sobre a continuidade do processo, uma vez que o cronograma já estava atrasado, tendo esperado a manifestação da fiscal do contrato. Ele disse ter encaminhado o e-mail com o link do Dropbox para a fiscal já no dia 18. Em seu depoimento na terça-feira, a servidora Regina Célia Silva Oliveira, fiscal do contrato, afirmou ter recebido o e-mail no dia 18, mas disse que não conseguiu abri-lo.
Na sequência, o senador oposicionista Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que a perícia foi contratada por uma empresa privada com negócios suspeitos, afirmou que confiava mais na palavra de William, e apontou algumas dados dessa perícia que avaliou não serem consistentes. O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, rebateu, apontando dados diferentes dos citados por Randolfe. Os senadores concordaram ser necessário pedir uma perícia à Polícia Federal.
Renan rebate Bolsonaro
Antes de iniciar seus questionamento na sessão, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), rebateu as declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que em sua live atacou a comissão e disse "caguei para a CPI".
— Ontem nós mandamos uma carta para o presidente da República, e o país ficou estupefato com a maneira como ele respondeu esta comissão parlamentar de inquérito. A escatologia proverbial do presidente da República recende ao que ocorreu no seu governo na pandemia. Todos sentimos esses odores irrespiráveis que empestearam o Brasil e mataram tantos inocentes — afirmou o relator da CPI.
Investigações: Pressionado, Pacheco deve prorrogar CPI da Covid na próxima terça-feira
Renan também disse que a comissão vai continuar o trabalho de investigação, sem medo de quarteladas. Na quarta-feira, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) comentou o envolvimento de militares em irregularidades nos fatos investigados. O Ministério da Defesa reagiu dizendo que "as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro". Na noite de quarta, Omar se manifestou novamente dizendo que não seria intimidado.
— Vamos em frente, sem medo e investigando quem precisar ser investigado. Nós não podemos ter medo de arreganhos, de ameaças, de intimidações, de quarteladas — disse Calheiros. — Não vamos investigar instituições militares. Longe de nós. Temos responsabilidade institucional. Agora, nós vamos sim investigar o que ocorreu nos porões do Ministério da Saúde. E na medida em que esses fatos forem sendo conhecidos, que as provas forem apresentadas, vamos cobrar punição dos seus responsáveis, sejam eles civis ou militares.
Pressões na pasta
O relator Renan Calheiros citou os nomes de alguns integrantes e ex-integrantes do Ministério da Saúde listados em outros depoimento e perguntou se William tratou com ele a negociação para a compra da Covaxin. O consultor disse que o ex-diretor do Departamento de Logística da pasta Roberto Dias não fez contato com ele para deixar de seguir os trâmites regulares. Contou que nunca conversou sobre o assunto com Marcelo Bento Pires. E afirmou que conversou Alex Lial Marinho, ex-coordenador-geral de Aquisições de Insumos Estratégicos, que procurava saber como estava o andamento do processo, mas negou ter sido pressionado.
— Eu sou um consultor subordinado a Luis Miranda [chefe da Divisão de Importação]. Se houve [pressão], foi direcionado a Luís MIranda — disse William.
Em seu depoimento, Luis Ricardo Miranda afirmou que sofreu pressão dos três.
Santana também disse que nunca conversou sobre o assunto com o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco, nem com o ex-diretor substituto do Departamento de Logística Marcelo Blanco e o ex-subsecretário de Assuntos Administrativos do Ministério da Saúde Alexandre Martinelli.
— Que eu posso dizer, no âmbito das atribuições que eu tinha, não tive contato com ele (Élcio).
Todos os nomes citados, com exceção de Roberto Dias, são militares.
Miranda relatou à CPI que, em encontro com Bolsonaro, denunciou pressão sobre seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo, para liberar a vacina Covaxin. Na ocasião, ele disse que o presidente mencionou o nome do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), que foi ministro da Saúde quando a pasta fechou contrato com a empresa Global, que recebeu pagamento antecipado mas nunca entregou os medicamentos comprados. A Global é sócia da empresa Precisa, representante no Brasil do laboratório indiano Bharat Biotech, desenvolvedor da Covaxin.
Renan perguntou a Santana se a Precisa ofereceu alguma propina, e William respondeu que não. Também disse que nunca favoreceu a empresa e que toda a comunicação com a Precisa está registrada em e-mail, ou feita pelo telefone do Ministério da Saúde em viva voz.
Questionado se era comum ter tantos erros num documento de importação como o apresentado pela Precisa, ele disse:
— Não nessa quantidade.
O senador de oposição Humberto Costa (PT-PE) avaliou que os erros nos documentos de importação, que chegaram a prever pagamento antecipado e valores acima do contrato, foram intencionais:
— Houve uma tentativa de "colar, colou".
Santana disse que Luís Ricardo mencionou estar sofrendo pressão para liberar a Covaxin, mas não citou nomes e disse para ele seguir normalmente com seu trabalho. Diante da insistência do presidente da CPI, Omar Aziz, o consultor disse:
— A chefia dele.
Aziz perguntou então quem era o chefe de Luís Ricardo.
— Subordinado na época a Alex Marinho — disse William.
— O senhor subtende que seja o chefe dele [quem pressionou]? — perguntou o senador Eduardo Girão (Podemos-CE).
— Isso — respondeu William.
Demora em envio de documentos da Saúde
Renan reclamou da demora do Ministério da Saúde em mandar documentos da negociação com a Covaxin e lançou uma suspeita sobre a razão disso:
— Até agora o Ministério da Saúde não mandou esses documentos. Sabe por que? Porque existem coisas escabrosas ainda maiores nessa grande negociata, enquanto os brasileiros morriam. Por exemplo, sabe-se agora, e vamos confirmar, que o secretário-executivo requisitou a compra à Precisa de mais 50 milhões de doses, além da negociação feita a partir da autorização da Câmara dos Deputados, que o Senado barrou, de permitir a compra pela iniciativa privada, que também seria realizada à Precisa.
Convocação de Onyx
Renan defenceu a convocação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni, por entender que, na tentativa de desqualificar as denúncias de irregularidade, ele tenha apresentado um documento de importação falsificado.
— Eu peço a imediata convocação do ministro Onyx Lorenzoni para esta comissão para que ele venha depor sobre o crime de falsidade, ao exibir perante a nação, para confundir a investigação desta comissão parlamentar de inquérito, um documento que sequer existe, falso. Portanto, a sua presença nesta Comissão é importantíssima — disse Renan.
A convocação de Santana foi aprovada nesta quarta-feira após requerimento do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, para quem o servidor em conhecimento de informações relevantes sobre o contrato celebrado entre a União e a Bharat Biotech. O nome dele foi citado na CPI pela fiscal de contratos da pasta Regina Célia Oliveira, que prestou depoimento na última terça-feira.
Segundo Regina Célia, Santana era o responsável pela liberação da importação da vacina Covaxin, apesar das irregularidades nos contratos da pasta com o laboratório Bharat Biotech.
Problemas com Madison
No depoimento que deu na terça-feira, a fiscal do contrato com a Covaxin no Ministério da Saúde, Regina Célia Silva Oliveira, disse que havia dois pontos com problema no documento de importação: um quantitativo de 3 milhões de doses na primeira remessa, menor do que os 4 milhões contratados; e o nome de uma empresa chamada Madison, subsidiária do laboratório indiano Bharat Biotech, que não aparecia no contrato. Regina Célia disse que aceitou a explicação dada pela Precisa sobre a diminuição da quantidade, mas não tratou da questão da Madison.
— Nesse momento a divisão de importação deveria ter me alertado que a invoice permanecia ainda com essa divergência. Se ele não me alertou, eu entendi que estava tudo correto — disse Regina na terça.
Nesta sexta-feira, William disse que falou com ela sobre essa questão por telefone, mas como ela autorizou o prosseguimento do processo, não cabia a ele interrompê-lo.
— Eu liguei para ela e externei dois pontos: o quantitativo está menor e figura uma terceira empresa que não está citada — disse William, acrescentando: — Na hora em que eu liguei, ela mandou e-mail para a Madison.
Na quinta-feira, a CPI encaminhou um ofício ao Palácio do Planalto cobrando posicionamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre as acusações apresentadas à comissão pelo deputado federal Luis Miranda. A carta foi assinada pelo presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz (PSD-AM), pelo relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), e pelo vice-presidente, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Após a comunicação, porém, Bolsonaro disse que não irá responder às perguntas feitas pelos senadores da CPI da Covid em relação às denúncias de corrupção no Ministério da Saúde. O presidente reagiu com raiva ao ofício e xingou a comissão que investiga o governo federal.
Sem máscaras e com aglomerações, Eurocopa deixa lições sobre o retorno do público aos estádios
Ao replanejar a edição especial de 60 anos da Eurocopa, adiada em doze meses por conta da pandemia, a Uefa condicionou a confirmação das cidades-sede à liberação de público nos estádios. A medida, que satisfez parte dos anseios econômicos da entidade, resgatou a pulsação que havia abandonado as arenas. Mas enquanto torcedores festejam ou lamentam a sorte de suas seleções dentro de campo, o vírus mostra que vence os protocolos de goleada.
Embora outros eventos já tivessem acontecido com a presença de público ao redor do mundo, nenhum deles teve a magnitude desta Euro, disputada em 11 países e com trânsito quase irrestrito pelo continente. Para sustentar essa ambição, a Uefa estabeleceu regras claras, dentre as quais a obrigatoriedade do uso de máscaras e o respeito ao distanciamento social nas arenas; a necessidade de realização de um teste rápido para detectar a Covid-19 no dia das partidas; e a entrada em turnos para evitar superlotação nos acessos. Em vão.
A distância entre teoria e prática ficou clara tão logo os portões se abriram: foi difícil encontrar quem usasse máscara durante o torneio, cuja final entre Inglaterra e Itália, no domingo, será testemunhada por 65 mil pessoas em Wembley. E aglomerações nas arquibancadas se tornaram comuns.
— Não dá para esperar um comportamento diferente. A partir do momento em que se libera uma aglomeração, a população se sente à vontade para estar sem máscara. Existe um relaxamento natural — explica o médico infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Os testes rápidos na data dos jogos também têm efeito limitado, pois desconsideram o período de incubação do coronavírus.
— Mesmo no PCR, padrão ouro para diagnosticar a infecção, a positividade é maior depois de dois, três dias do aparecimento de sintomas. Nos assintomáticos, você sequer tem esse parâmetro. Então, que garantia há de que o torcedor não está infectado? Nenhuma — completa Weissmann.
Várias frentes
Abrir as portas dos estádios causa um impacto além das arquibancadas. Significa, por exemplo, um estímulo a congregações em bares antes e depois dos jogos —como as celebrações de milhares de pessoas que tomaram as ruas de Roma após as vitórias da Itália — ou a intensificação do trânsito em aeroportos e estradas. No caso da Euro, tudo isso se dá num momento em que a variante Delta, severamente contagiosa, faz subirem os números de casos e internações, mesmo em países onde a vacinação contra a Covid está mais adiantada.
É impossível quantificar com exatidão o impacto numérico da Euro nas curvas da pandemia. Seria necessário um rastreamento hipersofisticado para chegar a uma estimativa confiável. E a flexibilização do público se dá em meio a outros relaxamentos. Mas os ônus de sua realização são patentes em exemplos dos últimos dias: São Petersburgo viu o número de casos subir durante o torneio; mais de 300 finlandeses testaram positivo após uma viagem para ver um jogo na cidade russa; e o equivalente escocês ao Ministério da Saúde contabilizou cerca de dois mil casos relacionados à Euro, entre torcedores que foram a Londres acompanhar uma partida em Wembley e aqueles que se aglomeraram em bares ou áreas de torcida.
— Temos de olhar além dos estádios. Precisamos ver como as pessoas chegam lá, será que viajam em grandes trens e ônibus lotados? E quando saem, vão a bares para assistir aos outros jogos? — reflete Catherine Smallwood, autoridade da OMS responsável pelas situações de urgência.
Positiva ou não, a experiência da Uefa servirá de espelho. Para Jorge Pagura, presidente da Comissão Médica da CBF, o passo dado na Eurocopa, com estádios recebendo até 65 mil torcedores, foi “temerário”.
— A Europa entrou na euforia da vacinação acelerada e dos números mais baixos, mas foi exagerado. Países como a Inglaterra podem se arrepender — pondera ao GLOBO o médico, à frente de estudos para viabilizar o retorno do público no Brasil. — Vamos aprender com eles para não repetir os erros.
Outras variáveis
Weissmann destaca que o retorno do público às arenas deve acontecer somente quando os indicadores mais relevantes — números de casos, internações e mortes — estiverem perto de zero. Além disso, é preciso atingir uma porcentagem mais robusta de imunização completa, ou seja, com as duas doses, o que não era a realidade da Europa no início do torneio. Ainda assim, haverá ressalvas a considerar.
— Pode-se ter 70%, 80% de vacinados, mas este vírus tem uma grande capacidade de sofrer mutações, então, é preciso também analisar o comportamento das variantes — diz o infectologista.
O agravamento na pandemia não freou os planos da Uefa, mas já afetou a organização de Tóquio-2020. Para o Brasil, o retorno parece distante, mas o recado é claro: qualquer flexibilização tem seu preço. A da Europa foi cedo e grande demais.
Covid-19: Brasil tem mais de 530 mil mortes; casos somam 18,9 milhões
O Brasil bateu a marca de 530 mil mortes por covid-19 desde o início da pandemia. Em 24 horas, secretarias de Saúde registraram 1.639 óbitos. Com isso, o total de vidas perdidas para a pandemia de covid-19 chegou a 530.179.
Os dados estão na atualização diária do Ministério da Saúde divulgada nessa quinta-feira (7), que consolida informações levantadas pelas secretarias estaduais de Saúde.
O número de casos acumulados desde o início da pandemia alcançou 18.962.762, se aproximando da marca dos 19 milhões. Entre ontem e hoje, foram confirmados pelas autoridades de saúde 53.725 diagnósticos positivos de covid-19.
Há 1.009.729 casos em acompanhamento, ou seja, pacientes que ainda podem evoluir para diferentes quadros, inclusive graves. O número de pessoas que se recuperaram da covid-19 somou 17.422.854 (91,9%).
Estados
O balanço diário do Ministério da Saúde também traz informações por estado. No alto do ranking de mais mortes por covid-19 estão São Paulo (131.478), Rio de Janeiro (56.498), Minas Gerais (47.596), Rio Grande do Sul (32.053) e Paraná (32.030).
Na ponta de baixo estão Acre (1.761), Roraima (1.770), Amapá (1.862), Tocantins (3.290) e Alagoas (5.483). Acre e Roraima não registraram novas mortes na atualização do Ministério da Saúde de hoje.
Vacinação
Conforme o painel do Ministério da Saúde sobre a operacionalização da campanha de imunização contra a covid-19, até o momento distribuídas cerca de 144 mil doses para as unidades da federação. No total, foram aplicadas 110,1 milhões de doses, sendo 81,1 milhões da primeira dose e 28,9 milhões, da segunda ou dose única.
Edição: Kelly Oliveira / AGÊNCIA BRASIL
O Datafolha: Reprovação a Bolsonaro sobe a 51%, novo recorde do presidente
A reprovação a Jair Bolsonaro (sem partido) subiu e atingiu 51%, o maior índice nos 13 levantamentos feitos pelo Datafolha desde que o presidente assumiu o governo, em 2019.
A pesquisa foi feita presencialmente nos dias 7 e 8 de julho com 2.074 pessoas acima de 16 anos em 146 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.
Na rodada anterior, realizada em 11 e 12 de maio, Bolsonaro tinha seu governo avaliado como ruim e péssimo por 45% dos ouvidos.
O crescimento ocorreu sobre segmentos que viam o presidente como regular, em um período marcado fortemente por denúncias de corrupção no Ministério da Saúde na pandemia, a atuação da CPI da Covid e os três primeiros dias nacionais de protestos contra Bolsonaro.
Já a avaliação positiva do presidente, que havia atingido seu pior nível com 24% em março, seguiu estável. Nesse sentido, o derretimento agudo da popularidade do mandatário estancou nesse levantamento, o que não deixa de ser uma boa notícia para o Planalto em meio ao festival de intempéries.
Os que o consideram regular caíram de 30% para 24%, comparando com o levantamento de maio.
Bolsonaro segue sendo o presidente com a segunda pior avaliação a esta altura de um primeiro mandato para o qual foi eleito desde a volta dos pleitos diretos para presidente, em 1989.
Só perde para Fernando Collor, que em meados de 1992 já enfrentava a tempestade do impeachment que o levou à renúncia no fim daquele ano. O hoje senador tinha 68% de ruim/péssimo, 21% de regular e apenas 9% de ótimo/bom.
Outros presidentes tiveram avaliações piores, como José Sarney e Michel Temer, mas eles não se encaixam no critério de comparação por não terem sido eleitos de forma direta como cabeça de chapa a um primeiro mandato.
O mau desempenho do presidente, em que pese a estabilidade de seu piso em comparação a maio, vem numa constante desde a pesquisa de dezembro de 2020, quando seu ótimo/bom havia chegado ao recordista 37%.
De lá para cá, foi ladeira abaixo. O agravamento da crise política desde que uma testemunha citou que o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, comandava um esquema de corrupção com conhecimento do presidente, tem tido efeitos imediatos no humor palaciano —foi aberto inquérito no Supremo Tribunal Federal para apurar se Bolsonaro prevaricou.
A turbulência teve novos capítulos, como a afirmação feita à Folha que um funcionário da Saúde quis cobrar propina numa nebulosa transação com imunizantes inexistentes.
Ela chegou novamente às Forças Armadas, criticadas na CPI pelo envolvimento de membros da reserva da corporação nas denúncias de irregularidades. O presidente, por sua vez, refez ameaças à ordem democrática.
Temperando o caldo, houve o superpedido de impeachment de Bolsonaro, tentando juntar todas as acusações contra o presidente, apesar da resistência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de analisá-lo.
A erosão na popularidade presidencial é homogênea entre os diversos grupos socioeconômicos, com exceção de um recuo na reprovação entre mais ricos (seis pontos entre quem ganha de 5 a 10 salários mínimos e cinco, entre os que ganham mais de 10 salários).
É no grupo econômico mais populoso da amostra, dos que ganham até 2 salários, que a situação foi pior para o presidente. Entre eles, que compõem 57% da população, Bolsonaro viu sua reprovação acelerar de 45% para 54%.
Acompanhando a toada vieram aqueles que moram no Nordeste, região mais carente que concentra 26% da população, que passaram de 51% para 60% na avaliação ruim ou péssima.
Bolsonaro segue sendo avaliado negativamente por mulheres (56%), jovens de 16 a 24 anos (56%), pessoas com ensino superior (58%) e os mais ricos (58%), apesar do recuo indicado.
Já seu desempenho é visto como mais positivo por quem tem mais de 60 anos (32% de ótimo ou bom), mais ricos (32%) e entre quem ganha entre 5 e 10 mínimos (34%).
Regionalmente, sua melhor avaliação segue nos bastiões que o acompanham, com variações, desde a campanha eleitoral de 2018. No Norte/Centro-Oeste (15% da amostra), Bolsonaro é visto com um presidente ótimo ou bom por 34%. No Sul (15% da amostra), por 30%.
Na mão inversa, seu pior desempenho é no Nordeste (60%), região na qual ele havia logrado uma melhora expressiva de avaliação no ano passado com a primeira fornada do auxílio emergencial para os afetados pela pandemia.
Aparentemente, a nova e mais magra versão da ajuda deste ano, renovada pelo governo nesta semana, não surtiu efeito.
Empresários seguem sendo o único grupo (de apenas 2% da amostra) em que Bolsonaro goza de apoio maior do que reprovação: 49% o consideram ótimo ou bom.
O presidente mantém seu apoio com melhores índices entre os evangélicos, segmento ao qual é fortemente associados: nesta semana, ele anunciou que irá indicar o "terrivelmente evangélico" advogado-geral da União André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal, por exemplo.
Sua reprovação cai para 34% entre eles, e a aprovação sobe a 37%. Evangélicos somam 24% da amostra do Datafolha.
O instituto buscou saber a opinião de pessoas por sua orientação sexual. Como Bolsonaro é historicamente conhecido por suas declarações homofóbicas, é pouca surpresa que seja reprovado por 72% dos homossexuais e bissexuais (8% da amostra, dividida igualmente entre os dois grupos).
Quando o quesito é racial, Bolsonaro atinge sua maior reprovação entre pretos (57%), com certa homogeneidade entre os demais grupos (brancos, pardos e amarelos).
Datafolha: Reprovação a Bolsonaro sobe a 51%, novo recorde do presidente
A reprovação a Jair Bolsonaro (sem partido) subiu e atingiu 51%, o maior índice nos 13 levantamentos feitos pelo Datafolha desde que o presidente assumiu o governo, em 2019.
A pesquisa foi feita presencialmente nos dias 7 e 8 de julho com 2.074 pessoas acima de 16 anos em 146 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.
Girão pede convocação pela CPI de envolvidos na compra de respiradores Fonte: Agência Senado
Em pronunciamento nesta quarta-feira (7), o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) insistiu na necessidade da convocação, pela CPI da Pandemia, do ex-chefe da Casa Civil do governo da Bahia, Bruno Dauster, e da empresária Cristiana Prestes, dona da Hempcare, empresa que comercializa produtos à base de cannabis, ou seja, da maconha. O parlamentar lembrou que Cristiana recebeu antecipadamente R$ 48,7 milhões do Consórcio Nordeste, para fornecer 300 respiradores clínicos de UTI, mas não entregou os produtos.
— Ela já fez delação — até caiu o ex-chefe da Casa Civil, o Bruno Dauster, que a gente quer chamar aqui também — dizendo que foi pedido para superfaturar. É um segredo muito grande, é um mistério muito grande, quando a gente fala na comissão, você vê o que acontece.
O senador cearense pediu aos cidadãos que pressionem, de forma pacífica, os parlamentares membros da CPI para que aprovem a convocação de Bruno Dauster e Cristiana Prestes. Ele criticou a cúpula da comissão por pretender, na sua opinião, blindar os governadores e prefeitos. E destacou que todos os casos de corrupção devem ser investigados, sejam eles no âmbito federal, estadual ou municipal.
Eduardo Girão afirmou ter aprovado todos os requerimentos de quebra de sigilo e de convocação de funcionários do governo federal e ter tentado o mesmo em relação a estados e municípios, apesar de que os governadores foram beneficiados por decisões do Supremo Tribunal Federal. Para ele, é uma contradição que o STF, tendo ordenado a instalação da CPI, de certa forma esteja sabotando os seus trabalhos.
Fonte: Agência Senado