Orquestra sinfônica nos Emirados Árabes é regida por robô
O regente no pódio não tem batuta, casaca nem partitura, mas ainda assim provoca uma tempestade ao conduzir os músicos de uma orquestra sinfônica com seus movimentos.
Trata-se do Android Alter 3, um robô com rosto de humanoide cujas mãos e antebraços gesticulam, alguns diriam, com paixão. Ele salta e gira durante a apresentação ao vivo da ópera "Beleza Assustadora", de Keiichiro Shibuya, em uma escola de música de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos.
Para Shibuya, um compositor japonês, o papel dos robôs na vida cotidiana está aumentando, mas cabe às pessoas decidir como a inteligência artificial pode amplificar a experiência humana, para que humanos e androides criem arte juntos.
"Esse trabalho é uma metáfora das relações entre humanos e tecnologia. Às vezes o androide enlouquece, e a orquestra humana tem de acompanhá-lo. Mas, em outras vezes, os humanos conseguem cooperar com ele sem dificuldade."
Shibuya compôs a música, mas é o androide quem controla o tempo e o volume da apresentação ao vivo --e pode até cantar. "A premissa é que ele se movimente conforme sua própria vontade", conta seu técnico, Kotobuki Hikaru.
Os versos da obra de Shibuya se baseiam em textos literários do escritor americano William Burroughs, da geração beat, e do autor francês Michel Houellebecq.
"Os robôs e a inteligência artificial que existem hoje não estão completos. O foco do meu interesse [...] é o que acontece quando essa tecnologia incompleta se une com a arte", afirma o compositor.
A apresentação da ópera em Sharjah gera reações mistas do público presente.
"Acho a ideia muito interessante. Viemos ver até onde [isso] é possível", diz a espectadora Anna Kovacevic.
"Um regente humano é muito melhor", declara outro membro do público, identificado apenas como Billum, depois de ver o espetáculo. "O toque humano se perdeu."
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves/ FOLHA DE SP
Fábio Luís Lula da Silva e o peso de um sobrenome
Poderia ser apenas a história de um garoto apaixonado por videogames, que precocemente é convidado a escrever sobre o assunto para jornais importantes, quando quase ninguém falava a respeito. Enquanto muitos outros não deram importância, ele percebeu o nascimento de uma poderosa indústria.
Cursou a faculdade. Decidiu empreender. Criou um programa de TV sobre o mundo dos jogos, que disputou, inclusive, o primeiro lugar no Ibope em seu segmento. Mudou-se para dentro da empresa, correu atrás de investidores para financiar os custos crescentes do negócio, fez empréstimos para comprar equipamentos.
O negócio prosperou. Chegou a ter 200 funcionários e clientes importantes como Microsoft, Sony, Hyundai, AMD, Sadia, Warner Games e Cinemark. A indústria de games é uma das que mais crescem no mundo e já é maior do que Hollywood.
Essa poderia ser apenas mais uma história de empreendedorismo, dessas que a mídia gosta de apresentar como exemplo de inspiração e perseverança. Mas o garoto em questão, hoje nos seus 40 anos, se chama Fábio Luís Lula da Silva. É filho do ex-presidente Lula.
Sua empresa, a Gamecorp, nunca foi apresentada como bom exemplo de nada. Vem sendo massacrada há mais de 15 anos, desde que a reportagem de uma revista a colocou no centro de um suposto esquema de favorecimentos. Era 2006, e Lula, o pai, disputava a reeleição presidencial como franco favorito.
Diga-se desde logo que as acusações nunca foram provadas. Após uma devassa conduzida pelo Ministério Público Federal, o processo foi arquivado por falta de provas a pedido dos próprios procuradores federais.
Poderia ser um recomeço, um atestado de idoneidade. Poderia. Desde a reportagem original da revista, entretanto, considerando apenas os três mais importantes jornais de circulação nacional, a Gamecorp apareceu em mais de 600 notas e reportagens, uma por semana em média, quase sempre apresentada como “suspeita” ou “culpada”. Não há empreendimento no mundo que resista.
E agora começa tudo novamente. No final do ano passado, o Ministério Público voltou à carga em uma nova fase da Operação Lava Jato, que resultou na apreensão de documentos e computadores em endereços de sócios de Fábio Luís. O começo de uma nova devassa.
Pela lei, o material apreendido deveria ser mantido em sigilo, para preservar a investigação e a vida dos investigados ou pelo menos para que fosse devidamente analisado.
Segundo notícias recentes, os promotores “suspeitam” que o ex-executivo Otávio Azevedo tenha omitido informações em sua delação premiada sobre supostos pagamentos da Oi, empresa controlada pela Andrade Gutierrez, para viabilizar a compra do imóvel de Atibaia.
A própria Justiça confirmou, no entanto, que o verdadeiro dono do sítio, Fernando Bittar, o adquiriu com recursos provenientes de seu pai. Tudo devida e fartamente comprovado.
O mais curioso é que a delação de Otávio Azevedo foi apresentada pelo Ministério Público como uma das maiores conquistas da Lava Jato. É de se pensar o porquê, de só agora, anos depois, os aguerridos promotores ainda terem “suspeitas”, contra, inclusive, extensa documentação probatória em sentido contrário.
As torneiras estão abertas, irrigando as Redações. Neste momento, a mídia está sendo abastecida por uma nova safra de suspeitas. Fragmentos do material apreendido vêm sendo metodicamente vazados para os principais veículos de imprensa há quase três semanas, dia sim, dia não.
Já apareceram rabiscos sobre a ideia de um time de futebol em Cuba, rascunhos de um gibi, cópias de emails e até os comprovantes de um empréstimo regular, obtido junto ao BNDES numa linha de crédito para pequenos empresários.
De acordo com o site do próprio BNDES, existem centenas de milhares de empresas em situação similar. Trata-se de um crédito rotativo e pré-aprovado pelo banco emissor, para aquisição de produtos e serviços credenciados. As empresas beneficiárias, entre outros requisitos objetivos, devem estar em dia com INSS, FGTS, Rais e demais tributos.
O que chama atenção é que, no caso em questão, o crédito foi utilizado para compra de equipamentos para atividades de uma empresa cuja própria existência já foi questionada.
As operações do BNDES, é bom que se diga, foram submetidas, nos últimos anos, a duras auditorias, e nada de irregular foi apontado.
Relações negociais conhecidas por órgãos de fiscalização e controle, para as quais os “envolvidos” deram ampla e irrestrita publicidade, são vendidas nos jornais como extraordinárias ou incomuns. Se não fosse revoltante, poderia até ser engraçado. Cada fragmento é revelado como indício, prova, suspeita.
Segundo o advogado Fábio Tofic, respeitado e combativo criminalista responsável pela defesa de Fábio Luís Lula da Silva, “o que mais admira, na verdade, é que não se aponta um único ato ou um mero gesto de Fábio para defender interesses privados no governo. Nada, absolutamente nada. Os negócios celebrados pelas empresas em questão têm indiscutíveis propósitos negociais e inequívoco significado econômico”.
Segundo ele, “essa nova safra de suspeitas e ilações vazadas sugere uma estratégia clara da força-tarefa para requentar um caso encerrado, a fim de tentar fixar artificialmente sua competência para conduzir uma nova investigação”.
Com a arrogância típica dos salvadores da pátria, alguns promotores e juízes prometeram a “cura” para a corrupção. Para se esconder daquilo que jamais poderão entregar, precisaram criar uma máquina de marketing baseada em factoides e na intimidação. Tratam de manter o ar pesado, para validar sua prática de atirar primeiro e perguntar depois.
É estarrecedor notar que o modus operandi revelado pela Vaza Jato para envolver a mídia, transformar suspeitas em fatos e ameaçar investigados ainda esteja sendo usado com tanta naturalidade. A corrupção tem muitas formas e uma delas é subverter as regras do devido processo legal.
A defesa de Fábio Luís Lula da Silva está pronta para, mais uma vez, demonstrar sua idoneidade, com fatos e provas. Primeiro nos autos do processo e depois para a opinião pública. Dentro da lei.
Não pode, não obstante, aceitar que lhe seja dado tratamento diferente do que o que se deve dar a qualquer empresário ou cidadão.
Alvo de Maia, ministro da Educação testa força no Congresso
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, terá nesta semana um termômetro oficial da satisfação do Congresso com a sua gestão. Caduca no próximo domingo (16) a medida provisória 895, que criou a carteirinha de estudante digital, medida adotada pelo governo com assumido tom de retaliação às entidades estudantis. Como parlamentares só realizam votações importantes nas terças e quartas, seria preciso nesses dois dias quase um milagre para tirar a MP da estaca zero.
Humores A MP entra na sua hora derradeira duas semanas após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reprovar a gestão do ministro. Caso perca a validade, a MP não pode ser reeditada antes de 2021. E deixam de ter amparo legal as 258 mil carteirinhas digitais emitidas até agora, segundo site do governo criado para isso.
Custos “Isso causou um grande prejuízo aos cofres públicos, mais de 200 mil carteiras foram emitidas por um sistema criado para esse fim, além do dinheiro gasto na propaganda”, diz o deputado Orlando Silva (PC do B-SP), que presidiu a UNE (União Nacional dos Estudantes) nos anos 90.
TIROTEIO
“Não merecemos um ministro que ofende os trabalhadores, como se tivesse chamando as pessoas para uma briga de rua”.
Do secretário-geral da Condsef, Sérgio Ronaldo da Silva, sobre a declaração de Paulo Guedes de que servidores são “parasitas”
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Alvo de Maia, ministro da Educação testa força no Congresso
Depois de escândalos, MDB vai apresentar plano de compliance
Câmara gasta ao menos R$ 38 mil com viagens de deputados em janeiro
Governo prevê gastos de R$ 1,2 tri em 10 anos sem reforma administrativa
Cacique Raoni vai a Brasília entregar manifesto contra governo
Decisão inédita de Toffoli gera impasse sobre cassação de Juíza Selma, a 'Moro de saia'
Provocou um impasse a decisão inédita do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, de determinar a posse do terceiro colocado na disputa pelo Senado em 2018 em Mato Grosso até que se defina quem irá ocupar a cadeira da senadora Juíza Selma (Podemos).
Conhecida como "Moro de saia", ela foi cassada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no fim do ano passado por abuso de poder econômico e captação ilícita de recursos durante a campanha.
Em janeiro, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), e o PSD apresentaram ações no STF alegando que, com Selma cassada, o estado ficaria sub-representado, com apenas dois senadores --cada estado tem três.
Em 31 de janeiro, Toffoli concedeu liminar (decisão provisória) para que Carlos Fávaro (PSD), o candidato a senador mais bem votado por Mato Grosso entre os não eleitos, ocupe interinamente o cargo. Em 2018, foram eleitos dois nomes de cada estado.
"Como ele toma posse sem diploma? Como registra que é senador da República sem diploma? O TRE [Tribunal Regional Eleitoral] vai diplomar ele como? Dá um diploma provisório? Não existe", disse o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM).
Crítico de Toffoli e aliado de Selma, o líder do PSL na Casa, Major Olímpio (SP), afirmou que, se Fávaro tomar posse, irá judicializar.
"Ele [Toffoli] inovou, mudou a Constituição e a legislação eleitoral. Só pode assumir quem é diplomado, e terceiro lugar não tem diploma. Cria um imbróglio jurídico", disse.
Já a presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), disse não ver problema na diplomação do terceiro colocado até que a eleição no estado, marcada para 26 de abril, seja realizada.
"Diploma é diploma. Igual o suplente toma posse, o senador, por determinação judicial, toma também", afirmou.
Procurados, TRE-MT e TSE não comentaram o caso.
Para advogados eleitorais ouvidos pela Folha, a decisão de Toffoli garante a posse de Fávaro. "Quando o ministro manda dar posse, necessariamente está mandando diplomá-lo. Se o Supremo decidiu que o caráter temporário da vaga não pode interferir na representação dos estados, isso quer dizer que, consequentemente, o senador em terceiro lugar tem de ser diplomado", disse Marilda Silveira, professora do IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público).
Para o advogado Alexandre Rollo, diante da decisão do presidente do STF não há nem sequer a necessidade de diplomação pelo TRE-MT.
"A determinação do presidente do Supremo já supriria esta questão de ter ou não diploma. Estamos tratando um caso excepcional de forma excepcional. O diploma, neste caso, seria um detalhe", afirmou Rollo.
A Constituição diz que, "ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la se faltarem mais de 15 meses para o término do mandato".
Em 2009, o senador Expedito Júnior (PSDB-RO) também foi cassado pela Justiça Eleitoral por compra de votos e abuso de poder econômico nas eleições de 2006.
Em seu lugar, o STF determinou que o segundo colocado, Acir Gurgacz (PDT-RO), assumisse. Em 2006, foi disputada apenas uma vaga.
Em 2015, porém, uma reforma política aprovada pelo Congresso estabeleceu a realização de novas eleições no caso de perda de mandato em cargos majoritários, como o de senador.
Nesta semana, surgiu ainda uma nova controvérsia envolvendo a cassação de Selma.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), levantou dúvida sobre o cumprimento da decisão do TSE ao resolver submeter a cassação à Mesa Diretora da Casa.
Segundo a Constituição, quando a Justiça Eleitoral decretar a perda de mandato de deputado ou senador, a cassação "será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa".
O emprego e o Uber - PEDRO DORIA
Por Pedro Doria - O Estado de S.Paulo
O Tribunal Superior do Trabalho definiu nesta quarta-feira, 5, que dirigir Uber não cria vínculo empregatício
Já perguntou para um motorista de Uber quantas horas ele tem de trabalhar para fazer R$ 3 mil por mês? É um salário que, numa grande cidade brasileira, deixa a família na Classe B. Mas um casal com filho teria dificuldades para bancar aluguel, escola particular e plano de saúde com esta renda. Na quarta-feira, o Tribunal Superior do Trabalho definiu que dirigir Uber não cria vínculo empregatício. Pode ser — e a questão não tem nada de trivial. Mas este problema não está sequer próximo de terminar.
O caso analisado foi o de um motorista paulistano que havia trabalhado com o aplicativo durante quase um ano, entre 2015 e 2016. Ele perdeu na primeira instância mas ganhou no Tribunal Regional da 2ª Região. Lá, os desembargadores argumentaram que havia indícios que poderiam caracterizar vínculo empregatício: habitualidade e subordinação, por exemplo. No TST foi diferente. O ministro relator, Breno Medeiros, sugeriu que como o motorista pode desligar o app e não trabalhar sempre que desejar, então não é a mesma coisa que um emprego formal. Ainda cabe recurso ao STF, e pode demorar.
Esta não é a questão. O problema, de fato, é outro. E não do Uber, do iFood, da Cabify, do 99, da Loggi ou da Rappi. O problema não é culpa de ninguém e, no entanto, existe. Não foi à toa que o parlamento da Califórnia, onde fica o Vale do Silício, decidiu tornar lei o vínculo empregatício entre apps e quem presta serviços através dele. É uma solução de curto prazo.
O problema, afinal, está no mundo.
Livre há três meses, Lula cria atritos com aliados e aprisiona a esquerda
“Se Lula for para a cadeia, o país vai pegar fogo.” “Quando Lula for solto, vai incendiar as massas.” Ditas e repetidas por aí, as frases apocalípticas acima não se materializaram. A mobilização em torno da prisão do ex-presidente decepcionou quem aguardava uma revolução. Sua libertação tampouco provocou o barulho esperado. Depois de amargar 580 dias na carceragem, na volta às ruas, o petista desancou o atual governo, repisou o mantra de que é vítima de um complô das elites e jurou mais uma vez vingança a Sergio Moro, o responsável por sua condenação. Fora os aplausos da claque dos convertidos, os discursos caíram no vazio. No trabalho de articulação política, Lula agora mais desagrega do que une. Antigos aliados reclamam da insistência em priorizar interesses pessoais e os do PT como condição para formar uma frente de oposição a Jair Bolsonaro. Até mesmo dentro da sigla começaram a surgir vozes dissonantes, o que era impensável alguns anos atrás. Resultado: o Lula livre aprisiona hoje a esquerda em uma encruzilhada de difícil solução.
Explica-se o dilema: de fato, o ex-presidente ainda é o nome mais forte da oposição, conforme mostram as pesquisas. A questão é que ele está impedido de concorrer nas eleições em razão da Lei da Ficha Limpa, após ser condenado duas vezes em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá e no do sítio de Atibaia. Para voltar ao jogo, o petista depende de uma improvável pirueta jurídica do Supremo Tribunal Federal (STF). Além disso, mesmo que concorra, Lula sofre um profundo desgaste de sua imagem. Um nome diferente poderia se beneficiar de sua força sem ser abalado por seus defeitos. Mas nem Lula nem o PT estão preparados para um movimento nessa direção.