Bolsonaro pede a apoiadores que não façam protestos no domingo
O presidente Jair Bolsonaro criticou os manifestantes autodenominados antifascistas durante sua live semanal desta quinta-feira, 4, transmitida pelas redes sociais. “Na verdade, são terroristas. Lamentamos não conseguir tipificar como terrorismo suas ações no passado”, disse o presidente, fazendo referência à Lei Antiterrorismo (13.260/2016), aprovada em 2016.
No último domingo, 31, manifestantes contrários ao governo protestaram na Avenida Paulista, em São Paulo. Após confronto com outro grupo de apoiadores do presidente, que também estava no local, e a Polícia Militar interveio. No mesmo dia, também houve mobilizações semelhantes no Rio de Janeiro e, na última terça-feira (2), ocorreu outra em Curitiba.
O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, também participou da live ao lado do presidente. Segundo ele, os manifestantes do último domingo, e que já marcaram novas mobilizações para o fim de semana, são comparáveis aos chamados black blocs, que ficaram nacionalmente conhecidos por promoverem uma tática de protesto que incluía depredação de patrimônio, durante a jornada de mobilizações populares em junho de 2013.
“Todo brasileiro conheceu ali em 2013 os black blocs, que foram responsáveis por uma grande arruaça, quebraram tudo, vandalismo, agressão e até mesmo a morte de um cinegrafista, o Santiago [Andrade], da Bandeirantes”, afirmou Martins. O assessor do presidente ainda argumentou que o governo Bolsonaro defende liberdades e menos Estado e que, por isso, não poderia ser considerado fascista.
Ainda durante a live, Bolsonaro voltou a pedir que seus apoiadores, que têm feito manifestações a favor do governo quase todos os finais de semana, não voltem às ruas neste domingo, 7, para evitar conflito com os manifestantes contrários.
“Domingo agora, esse pessoal está marcando um movimento. Eu peço a todos aqueles que nos seguem, nos acompanham, que não participem desse movimento, fiquem em casa, vão pra outro lugar qualquer, e deixem eles mostrarem o que é democracia para eles. Eu não estou torcendo para ter quebra-quebra não, mas a história nos diz que esses marginais, de preto, que vão com soco inglês, punhal, barra de ferro, coquetel molotov, geralmente eles apedrejam, queimam bancos, queimam estações de trem e outras coisas mais. […] Um bando de marginais, muitos ali são viciados, muitos têm costumes os mais variados possíveis que não condizem com a maioria da sociedade brasileira. Eles querem tumulto, querem confronto”, afirmou o presidente.
Auxílio emergencial
Jair Bolsonaro confirmou também que vai prorrogar por mais dois meses o auxílio emergencial pago a pessoas de baixa renda, sobretudo trabalhadores informais, devido à pandemia do coronavírus. O presidente afirmou que a extensão já está acertada com o ministro da Economia, Paulo Guedes. E disse, sem dar detalhes, que o valor será menor do que os R$ 600 pagos atualmente. “Vai ter, também, acertado com o Paulo Guedes, a quarta e a quinta parcela do auxílio emergencial. Vai ser menor do que os R$ 600, para ir aí partindo exatamente para um fim”. VEJA
NÓS CONTRA ELES DE NOVO - Nas ruas Por Merval Pereira
Em tempos de pandemia, a pulsão individual tem que ser controlada pela realidade, o que é difícil de acontecer. Nos deparamos, então, com situações excêntricas que definem quem está ao lado de quem.
Partidos políticos de oposição pedindo para o povo não ir às ruas protestar contra o governo de Bolsonaro? O próprio presidente incentivando manifestações populares, quebrando o distanciamento social e abraçando seus seguidores?
Partidários dos movimentos da sociedade contra o governo acham que não é o momento de fazer protestos nas ruas, por causa do coronavírus. E, ainda por cima, há o perigo de pessoas se infiltrarem para fazer baderna e dar razão a Bolsonaro.
Mesmo assim, várias manifestações estão programadas para o próximo domingo, e deve haver confronto, apesar de o presidente Bolsonaro ter pedido aos seus seguidores para não se manifestarem no mesmo dia que os opositores. Tentou parecer magnânimo: “Deixem as ruas para eles”.
Está sendo apenas realista, já viu que as ruas não são suas, como chegaram a comemorar seus seguidores em frente ao Palácio do Planalto numa daquelas domingueiras a cada dia mais esvaziadas.
Novamente o “nós contra eles” incensado pelo ex-presidente Lula, que levou três semanas para aderir ao movimento pelo impeachment de Bolsonaro, e agora renega a frente ampla que se tenta construir contra o governo porque não aceita estar junto de pessoas que não o consideravam um preso político, mas um político preso, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ou o ex-ministro Ciro Gomes.
Parece que não aprendeu com a derrota de 2018, ou quer repetir a dose em 2022, achando que fazendo a coisa errada seguidamente acaba dando certo no final. Não dá. Einstein já ensinou: “A definição de insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes”.
Petistas menos inflexíveis aderiram a diversos movimentos, mas barraram a assinatura de Sérgio Moro. Essa é apenas uma das grandes diferenças que separam Mandela de Lula, apesar da tentativa de igualá-los: Mandela juntou-se a Frederik de Klerk, presidente do governo sul-africano que o manteve na cadeia por 30 anos, para assinar o fim o apartheid. Na Espanha pós-franquista, o líder conservador Adolfo Suarez e o socialista Felipe Gonzalez não deixaram de ser adversários para assinar os Pactos de Moncloa.
Claro que não estamos nem perto desses marcos históricos, mas pela instransigência demonstrada por uma parte petista da esquerda, não chegaremos lá. Bolsonaro criticou – com razão – a baderna que aconteceu em Curitiba, em protesto contra o racismo e o fascismo, mas, sem razão, chamou os manifestantes de “terroristas”.
Ontem, um deputado governista quis propor uma lei que criminalizasse quem queimar a bandeira nacional, como aconteceu em Curitiba. O presidente da Câmara Rodrigo Maia perguntou: “E quem leva cartazes e faixas defendendo o fechamento do Congresso vai ser criminalizado também?”.
Essa é a questão central do “nós contra eles” tão ao gosto de Bolsonaro e Lula, ambos com popularidade decadente. Classificar de “terroristas” os manifestantes contrários, mas incentivar que seus apoiadores a se armarem para “defender a democracia”, é uma “bolsonarice” típica.
O melhor exemplo é o acampamento dos 300 em Brasília, comandado pela militante Sara Winter, que posa armada com revolver e metralhadora e está sendo investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fake news.
Em meio a esse pandemônio político, Bolsonaro anunciou que vai flexibilizar a posse e o porte de armas. São demonstrações de agressividade perigosas num momento como o que estamos vivendo, em que o presidente perde a capacidade de ser intermediário, um negociador entre as partes, porque está envolvido com um lado da questão, e o incentiva a se manifestar e a se armar. O GLOBO
Deputados invadem hospital de campanha do Anhembi e causam tumulto
Cinco deputados estaduais acompanhados de seus assessores invadiram as instalações do hospital de campanha no Anhembi na tarde desta quinta-feira (4), causando tumulto no local. Dizendo que fariam uma vistoria, eles criticaram o governador João Doria (PSDB) e afirmaram que o governo paulista mente sobre o número de casos e mortes no estado.
Nesta quinta, no entanto, o Brasil chegou à marca de 34.021mortes e 614.941 casos confirmados; outras 4.159 mortes estão em investigação. Epicentro da pandemia no país, São Paulo chegou ao número de 8.561 óbitos e 129.200 casos confirmados.
O total real de casos e mortes, porém, tende a ser ainda maior, devido à subnotificação e a casos ainda à espera de análise.
Mesmo com esses números, os deputados Adriana Borgo (Pros), Marcio Nakashima (PDT), Leticia Aguiar (PSL), Coronel Telhada (PP) e Sargento Neri (Avante) forçaram a entrada nas instalações hospitalares do Anhembi, inclusive em áreas com alto risco de contaminação.
Em vídeos divulgados em suas redes sociais, Nakashima afirma que encontrou leitos vazios, alguns sem respiradores e criticou as medidas de isolamento social impostas no estado. Também em vídeo divulgado na internet, Adriana Borgo disse que "não tem doente porcaria nenhuma" no hospital de campanha.
Assim como os demais parlamentares, ela criticou as medidas de distanciamento social, recomendadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como principal forma de conter a pandemia enquanto não há remédios ou vacina para a Covid-19.
Os vídeos divulgados pelos parlamentares mostram funcionários do hospital pedindo para os deputados e assessores usarem, pelo menos, equipamentos de proteção individual para entrarem nos locais com alto risco de contaminação. "Isso é frescura. A gente não tem medo disso", reclamou Borgo.
Em nota, a Prefeitura afirmou que "os deputados e assessores invadiram o HMCamp do Anhembi de maneira desrespeitosa, agredindo pacientes e funcionários verbal e moralmente, colocando em risco a própria saúde porque inicialmente não estavam usando EPIs e a própria vida dos cidadãos que estão internados e em tratamento na unidade."
A gestão Bruno Covas (PSDB) diz, ainda, que os parlamentares filmaram as alas do hospital que ainda não foram ativadas, mas que estão prontas para serem colocadas em funcionamento caso necessário. "E também gravaram pacientes sem autorização prévia, muitos dos quais estavam sendo higienizados em seus leitos."
Com capacidade para atender cerca de 1.800 pacientes, o hospital de campanha do Anhembi está, atualmente, com 397 pessoas internadas, segundo a prefeitura, que informa também que outros 3.700 pacientes já passaram pelo local, dos quais 2.800 foram curados e tiveram alta.
"A Prefeitura de São Paulo reitera total repúdio a atitudes violentas e ações deliberadas para tentar enganar a opinião pública", finaliza a nota divulgada pela gestão municipal.
Carlos Wizard diz que vai ‘apostar 100%’ na cloroquina e prega tratamento precoce
Após assumir o comando da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE), o empresário Carlos Wizard, fundador da rede Wizard de escolas de inglês, afirmou que o governo Bolsonaro vai “apostar 100%” no uso da cloroquina para tratamento da Covid-19.
De acordo com as informações da colunista Bela Megale, do jornal O Globo, o governo já programou com a Índia a compra de dez toneladas da matéria-prima para fazer o medicamento. O custo estimado na aquisição é de 6 milhões de dólares (cerca de R$ 30,3 milhões).
“Vamos apostar 100%, seguir e defender a cloroquina. Esperamos que, nos próximos 30 dias, possamos receber essa carga no Brasil”, disse Wizard ao jornal O Globo.
Segundo o empresário, o governo mantém a posição de utilizar o remédio em larga escala e citou a retomada de testes com cloroquina pela Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciada ontem.
A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos analisa, diariamente, pesquisas sobre medicamentos testados para a Covid-19, como a cloroquina. Em entrevista ao O Globo, o empresário criticou o protocolo anterior sobre a Covid-19 e recomendou que os doentes iniciem o tratamento logo no início dos sintomas.
“Hoje, a nossa recomendação como Ministério da Saúde, e especificamente da nossa secretaria técnica da Ciência, é justamente o contrário: a pessoa começou a ter os primeiros sintomas, vai para posto de atendimento, UPA, pronto socorro, hospital, plano médico. Comprovado o Covid, entra imediatamente em procedimento, onde ele passa a ter o tratamento precoce. E todos os seus familiares, (o tratamento) profilático. Ou seja, o sujeito é casado, tem mulher, filhos, aquele grupo familiar já passa a ter tratamento antecipado”, afirmou Wizard. ISTOÉ
CONTRATO DE RISCO - DORA KRAMER / VEJA
PT perdeu-se no caminho da aliança por onde envereda Bolsonaro / Por Dora Kramer -
Há centrão e centrões. A denominação do conjunto de partidos com os quais o presidente Jair Bolsonaro faz parceria nem sempre foi só pejorativa, assim como nem todos os políticos que participam dele fazem da política um negócio no mau sentido.
O grupo surgiu na Constituinte de 1987/1988 e, se de um lado fez da oração de São Francisco (“é dando que se recebe”) o seu pior, de outro conseguiu mitigar propostas inviáveis num país capitalista. Nos anos seguintes, prevaleceu a má fama em decorrência do destaque assumido pela, digamos, banda podre.
Foi ela quem contribuiu de modo acentuado para a derrocada do PT a partir da concepção do ex-presidente Lula de que seria mais fácil comprar parlamentares do que negociar com o Congresso. É com ela que o presidente Bolsonaro imagina agora segurar processos de impeachment.
Envereda por um caminho perigoso. Tem entregado cargos importantes na administração federal à indicação de deputados comprovadamente envolvidos em esquemas de corrupção. Por enquanto limita a entrega ao segundo escalão. Logo vai se ver obrigado a elevar a oferta ou não terá a paga esperada.
Aí mora o perigo de se ver às voltas com o mesmo tipo de escândalo que tanto criticou e abriu caminho para sua eleição em 2018. Esse pessoal não brinca em serviço, conforme demonstrou Roberto Jefferson ao deflagrar o caso mensalão. Tampouco entra em brigas que não lhe são convenientes. Por exemplo, com o Supremo Tribunal Federal e com perdas acentuadas de popularidade.
O governo já precisou cancelar uma nomeação diante da divulgação de que o indicado para o Banco do Nordeste é suspeito de malfeitorias em outro importante cargo que ocupou na Casa da Moeda. Deveria servir de alerta. Ou o presidente acha que os avalistas das indicações em curso, integrantes da referida banda podre, gente investigada, processada, condenada e presa, não estarão por trás das ações de seus afilhados?
Os esquemas do PT foram eleitoralmente úteis para Jair Bolsonaro que, no entanto, deveria levar em conta a possibilidade de que quem com Valdemar da Costa Neto feriu, com Valdemar da Costa Neto venha a ser ferido.
PSB pede que filiados não participem de atos por temor de instrumentalização por Bolsonaro e para evitar aglomerações
A direção do PSB decidiu solicitar aos seus afiliados e apoiadores que não participem das manifestações em defesa para a democracia marcadas para o domingo (7) em diversas cidades pelo país.
Em nota assinada pelo seu presidente, Carlos Siqueira, e entitulada "Ainda não é hora de tomar as ruas", o partido diz que sua decisão é embasada pelas limitações sanitárias exigidas e também por temor de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aproveite as manifestações para ter uma reação radical e antidemocrática.
A nota destaca que a realização de grandes aglomerações no momento pode fazer com que a disseminação do coronavírus piore, o que seria preocupante "diante da flagrante fragilidade da atenção à saúde", diz a nota.
O PSB pondera que grupos infiltrados podem criar situações que favoreceriam uma "repressão proporcional aos movimentos" e também "uma reação governamental, que pode implicar o uso de medidas de exceção, o que este governo autoritário demonstra ser de seu interesse".
O pedido do partido, então, é para que as manifestações em defesa da democracia sejam mantidas nas redes sociais, "que tem sido até aqui o principal e mais efetivo veículo para a movilização dos democratas".
"Para vencer neste momento delicado da vida política nacional, o campo democrático deve ser o mais amplo possível e articular estratégias próprias, evitando cair nas armadilhas que propõem os defensores do arbítrio. Neste momento eles desejam disseminar a desordem, e nós precisamos, ao contrário, da serenidade firme e do comedimento dos que sabem que são maioria", conclui a nota.
Com Mariana Carneiro e Guilherme Seto