Avessa a reconhecer erros, Dilma não soube conter revolta política
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A presidente Dilma Rousseff conversa com o vice Michel Temer no Palácio do Planalto |
Era 2011. A faxina lançara Dilma Rousseff a invejáveis níveis de popularidade. O governo parecia ter encontrado um narrativa de sucesso: a mulher intolerante à corrupção varria os impuros de cena. À medida que as pesquisas de opinião a favoreciam, aumentava sua certeza de que tudo tinha de ser do seu jeito. Sempre que contrariada, rebatia: "Você tem 55 milhões de votos?!". E quanto mais poder conquistava, menos olhava para o Congresso. Abatido por um câncer na laringe, Lula precisou se afastar em outubro de 2011. E sua antecessora passou a governar sem o seu poder moderador particular.
Protestos de 2013 marcaram fim de retórica triunfal do PT
Como chegamos a esta crise? Adoto o sentido anti-horário, isto é, indo do fim para o começo. Uma das coisas que mais me chamam a atenção é a ruptura final do vice-presidente Michel Temer. O governo já afundava, é claro, mas exatamente por isso já se colocava a hipótese de uma discreta "tomada de poder" pelo peemedebista, com Dilma honrosamente entronizada como uma espécie de rainha da Inglaterra.
Crime, corrupção e incompetência
A fome e o apetite pelo poder não são novidade. Simultaneamente trágico e ridículo, sempre foi assim. Suetônio, em "A Vida dos doze Césares", é ao mesmo tempo biógrafo da Roma imperial e das misérias da luta pelo poder. Ao longo da história, com raras exceções, os exemplos são suculentos e até monótonos. No tempo dos Césares o problema era mais simples e rápido. O sucessor matava o antecessor, às vezes com o auxílio da própria mãe que desejava para seu filho não apenas o poder, mas a glória de dominar o mundo.
Decisão da Câmara - FOLHA DE SP
Seria exagerado dizer que a crise vivida pelo país neste momento é a mais grave de sua história. Para lembrar apenas dois exemplos, a que teve seu desfecho no suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, e a que resultou em duas décadas de ditadura militar, em 1964, conheceram desdobramentos que, hoje, nem os mais pessimistas haveriam de prever. Em nenhum instante, contudo, foram tão grandes a impressão de complexidade, a carga de paradoxos, a variedade de alternativas e atitudes que a situação vem trazer aos olhos dos brasileiros.
Neste domingo (17), a Câmara dos Deputados vota o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Já representa uma simplificação, entretanto, apresentar assim a decisão a ser tomada. Embora na prática seja disso que se trata, do ponto de vista jurídico e institucional a descrição é inexata.
O preço da barganha - O ESTADO DE SP
Ao abrir a discussão com os governadores de formas para reduzir o impacto do pagamento das parcelas da dívida dos Estados com a União – transferindo para o futuro o custo do alívio no presente –, o governo Dilma Rousseff estava menos preocupado com a crise financeira que aflige os Executivos estaduais do que com o ganho político que esperava obter. Pretendia conquistar o apoio, ainda que dissimulado, dos governadores à sua tentativa até agora infrutífera de recriar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), o famigerado imposto do cheque, para resolver seus próprios problemas fiscais. Mas acabou criando para si mais problemas, que podem custar centenas de bilhões de reais para a União e tornar ainda mais aguda a crise fiscal que pretendia amenizar.
Tragédia e farsa - Luiz Sérgio Henriques
Quando se escrever sobre estas últimas semanas com certo distanciamento, e não sob o signo de polarizações políticas simplórias, algum cientista social do futuro notará, talvez com divertimento, que o espectro de Karl Marx andou rondando o País. Não que estejamos à beira de revolução violenta ou prestes a enfrentar catástrofe de sinal oposto, rumo à contrarrevolução. O Marx que nos tem assediado, ao contrário, é o autor fulgurante do 18 Brumário, que narra, com indivíduos de carne e osso, a história do golpe de Luís Bonaparte, o sobrinho que, a seu ver, surgia como repetição banal do tio extraordinário.
Para Dilma, reação demorada foi erro
A presidente Dilma Rousseff chega hoje à mais importante batalha de sua vida sem saber se conseguirá sobreviver, mas convencida de que o seu maior erro não foi enveredar pelo caminho do ajuste nem subestimar o desgaste da Operação Lava Jato ou autorizar manobras conhecidas como pedaladas fiscais. Dilma se penitencia pela demora em reagir à “conspiração” dentro do Palácio do Planalto – promovida, no seu diagnóstico, pelo vice-presidente Michel Temer – e por ter se distanciado de seu “criador”, Luiz Inácio Lula da Silva.
Oposição aprende a enfrentar PT após 13 anos
A narrativa do segundo processo de impeachment desde a redemocratização começa de forma difusa com as primeiras manifestações logo após o segundo turno das eleições de 2014, segue por um caminho tortuoso em 2015 que se consolida como épico nos últimos três meses, quando os movimentos de rua e os partidos políticos passaram a atuar de forma integrada e orgânica.
Fortaleza tem reforço no policiamento neste domingo

A votação de abertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff, marcada para este domingo, fez Fortaleza ganhar reforço no policiamento ostensivo. Manifestações foram marcadas para ocorrer na Capital.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), explicou o esquema montado em Fortaleza. O equipamento utilizado na Copa do Mundo, em 2014, servirá mais uma vez para controle das ações e tomada rápida de decisões por parte dos comandantes.
Além disso, outros órgãos federais, Estaduais e Municipais também deverão tomar parte na operação realizada na Capital.
"Em virtude de manifestações agendadas para o próximo domingo (17), a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que o Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR) estará ativado, com a presença da cúpula da SSPDS e de suas vinculadas - Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Perícia Forense.
A solidão de Dilma Rousseff - ÉPOCA
>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana:
Poucas residências são tão belas e solitárias quanto o Palácio da Alvorada. A combinação de vidro e concreto, à beira do Lago Paranoá, fica distante de todo o resto de Brasília, uma forma de resguardar e diferenciar sua moradora dos outros habitantes da cidade. Dilma está acostumada. Mora no distante Alvorada desde 2011. Contudo, o avançar do impeachment alterou seus hábitos, parece ter encurralado a presidente até mesmo dentro de sua residência.