Avanço do Brasil no IDH torna mais urgente desafio na educação
Por Editorial / O GLOBO
É boa notícia o avanço do Brasil no ranking de desenvolvimento humano da ONU, calculado com base em indicadores de saúde, escolaridade e renda. O país alcançou em 2023 o 84º lugar na lista do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). No ano anterior, estava cinco posições atrás. Com isso, o Brasil voltou ao grupo de países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado alto pelo Pnud.
O IDH varia entre 0 e 1. Quanto maior, mais desenvolvido o país ou região. No Brasil, o indicador havia alcançado 0,77 em 2020, mas caiu com a pandemia e a redução na expectativa de vida. Em 2022, voltou a subir para 0,78 e, pelo dado de 2023, alcançou 0,786 — valor pouco acima da média da região (0,783) e da média global (0,756). As posições conquistadas no ranking são resultado mais das dificuldades do resto do mundo em retornar ao patamar anterior à pandemia. O Brasil conseguiu, comparativamente, se recuperar mais rápido que o planeta.
A principal causa foi o progresso na renda e na saúde. Calculada pelo critério de paridade do poder de compra, usado pelo Banco Mundial, a renda per capita do brasileiro subiu de US$ 16.609 em 2020 para US$ 17.594 em 2022 e US$ 18.011 em 2023. A queda no desemprego e os aumentos reais concedidos a benefícios sociais a partir da pandemia explicam boa parte desse salto. Em saúde, o país reverteu o prejuízo, e a expectativa de vida voltou a crescer. Em 2020, era de 74,5 anos. Caiu para 73 no ano seguinte, em razão das mortes causadas pelo coronavírus — mas voltou a 75,9 anos em 2023.
Comparativamente, o Brasil se saiu melhor que o mundo como um todo. O IDH global registrou a menor alta em seus 35 anos de existência, sobretudo pelo impacto da pandemia na expectativa de vida. Antes, ela crescia três meses por ano. Em 2022 e 2023, o crescimento caiu à metade.
No que diz respeito à educação, contudo, o Brasil continuou estagnado. Os dois indicadores usados no cálculo do IDH se mantiveram no mesmo patamar. A expectativa de escolaridade do brasileiro se manteve em 15,8 anos, nível inalterado desde 2020. E a escolaridade média da população continuou em 8,4 anos, resultado idêntico ao dos dois anos anteriores (em 2020, estava em 8,3). Nesse quesito, países como Chile ou Argentina apresentam desempenho próximo ao da Islândia, líder mundial em IDH. No Chile, alunos frequentam a escola por 14,3 anos em média e na Argentina por 11,2.
A deficiência em educação é mais preocupante levando em conta o cenário traçado para os próximos anos. Automatização e inteligência artificial terão impacto transformador no mundo do trabalho. Países que não estiverem preparados não conseguirão tirar proveito da nova onda tecnológica. A primeira condição para isso é ter uma população educada e bem formada. Prova de que o Brasil ainda está muito distante de satisfazê-la é o indicador divulgado recentemente, segundo o qual quase 30% da população ainda está na categoria dos “analfabetos funcionais”. Passou da hora de reagir.
Ensino ficou estagnado nos últimos anos — Foto: Guilherme Oliveira/Divulgação