O melhor presente possível
Em seus 88 anos, o jornal O POVO se sentiu presenteado com as torrentes que percorreram o solo árido do Ceará no dia de ontem. Os melhores presentes são os que chegam sem avisar. Surpreendentes, as chuvas trouxeram a esperança de um ano de 2016 sem estiagem. Que assim seja.Quando o jornal O POVO veio ao mundo, em 1928, o noticiário das chuvas era o do dia seguinte. Depois, vieram o rádio, a TV e a internet. Hoje, multiplicadas pelas redes sociais que sabiamente reproduzem a credibilidade da cobertura jornalística, as imagens das corredeiras no semiárido aliviaram em tempo real o coração dos cearenses. Dessa forma, o também aniversariante O POVO Online se sentiu presenteado em seus 19 anos de existência. Por outro lado, o alívio pelas chuvas é representativo do quanto o Ceará ainda depende da quantidade dessa condição climática até mesmo para o consumo humano de água. A oferta de água tratada até para beber está em crise em dezenas de municípios do Ceará. As chuvas de ontem estão longe de ser o fim desse tormento que tanto aflige a população do Estado.
A estiagem é um componente do nosso clima. Daí a sapiência dos técnicos que estudam as condições climáticas e dos formuladores de políticas públicas quando substituíram o termo “combate às secas” para “convivência com a seca”, introduzindo o moderno conceito de sustentabilidade para o desenvolvimento.
Felizmente, mesmo com a repetição de velhos problemas, o Ceará vem se transformando em um exemplo no que diz respeito às políticas públicas nessa área. Nas últimas quatro décadas, independentemente do governante que esteja de plantão, foi mantido o sentido de continuidade conceitual nas obras e nas políticas relacionadas aos recursos hídricos.
A linha encadeada e sem interrupção dessas políticas fez com que Ceará criasse a mais bem estruturada rede hídrica do País. Nos próximos anos, a integração da bacia das águas do rio São Francisco com o cearense Cinturão das águas vai estabelecer um grau superior da convivência com o semiárido.
Portanto, é fundamental que os governos se esforcem para não interromper o financiamento desse conjunto de obras que será um divisor de águas na história econômica e social do Estado.