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A gente quer comida ~Rachel Sheherazade

Eles se orgulham de não recorrer à Lei Rouanet para financiar seus projetos, mas não abrem mão de um dinheiro público fácil. É a geração dos “artistas-carniceiros”, uma gente gananciosa, que confunde o bem público com interesse privado, que acha normal cobrar cachês milionários de prefeituras miseráveis… Essa gente não sente o tal “peso na consciência” até por que lhes faltam, entre outros atributos, escrúpulos. Sua moral é flex e vacila ao sabor dos interesses dos seus benfeitores – ora para a esquerda, ora para a direita, ora para o centro… Quem manda é o “freguês”.

Mais de 30 prefeituras estão na mira do Ministério Público que investiga o pagamento de cachês superfaturados a artistas famosos, principalmente cantores e duplas sertanejas, que ganharam especial destaque durante o atual governo. Gosto não se discute, e não é isso que está em questão. Se há quem ouça há também quem pague para ver artistas de qualidade duvidosa. A questão se complica quando os cofres públicos se tornam financiadores desse “circo”. E por cofres públicos, entenda-se: dinheiro do povo sob a responsabilidade de agentes públicos. Valendo-se de brechas na Lei das Licitações, prefeitos e governadores contratam artistas a peso de ouro e sem concorrência pública, o que dá margem, quando menos, a especulações, quando mais, a todo tipo de negociata escusa envolvendo política e cultura.

Valendo-se de brechas na Lei das Licitações, prefeitos e governadores contratam artistas a peso de ouro e sem concorrência pública

A estratégia romana do “Pão e Circo” (Panem et Circenses) para conter insurreições no Império foi útil durante muito tempo. Os governantes mandavam distribuir pedaços de pão durante os espetáculos de luta e corridas de bigas nas arenas, construídas para distrair a plebe, em sua grande maioria faminta e desempregada. A política de oferecer distração ao povo em troca de apoio e mansidão tem sido copiada com sucesso desde então. Mas, quando falta o pão, a massa não se contenta com o espetáculo, rebela-se contra a fome e a opressão, e, então, até as cabeças reais podem rolar.

A gente não quer só diversão e arte. Antes de tudo, a gente quer comida! São as necessidades mais prementes como alimentação, saúde, habitação que devem ser saciadas primeiro. Como assentir no gasto de milhões com cultura quando o mínimo não foi destinado à educação? Quando a saúde se vê combalida, o emprego foi embora e a fome bate à porta sem dó nem piedade? Se há verba de sobra para bancar shows de música por que falta dinheiro para valer o povo? Em tempos de cobertor curto, só uma coisa justifica gastos milionários com artistas já tão ricos e famosos: as eleições. ISTOÉ

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