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De olho nas aves de Baturité

Por Demitri Túlio

Uru, arapaçu-de-garganta-amarela, periquito-cara-suja, pintassilgo-do-nordeste, jacucaca, chupa-dente, choca-da-mata, saíra-militar, maria-do-nordeste, tucaninho-da-serra, arapaçu-rajado-do-nordeste e vira-folha-cearense… 

Os nomes (populares) são de pássaros que, se não cuidarmos, virarão memória nos olhos de quem teve a sorte de encontrá-los na floresta. As doze raridades estão marcadas com um selo de “ameaçadas” de extinção no Guia Fotográfico: Aves da Serra de Baturité. Uma publicação de campo, lançada recentemente pela ONG Aquasis e assinada pelo biólogo Fábio de Paiva Nunes e pela ecóloga Ileyne Tenório Lopes. O livro é também um convite para discutir a preservação da biodiversidade no Maciço de Baturité e o que a avifauna dali tem a ver com a vida da gente.

Além das doze aves que estão por um triz, mais 139 pássaros diferentes são retratados no guia de bolso. Imagens e verbetes que revelam a multiplicidade de animais, seus hábitos e o que alguns enfrentam para continuar a existindo.

A floresta preservada ficou menos, por exemplo, para o uru (Odontophorus capueira plumbeicollis). Um galináceo pequeno e topetudo que, com a urbanização das serras, passou a ser presa do gato doméstico e das armadilhas de caçadores. No Ceará, conta Fábio Nunes, o uru só ocorre na Serra de Baturité. 



A população de jacucaca ou jacu-verdadeiro (Penelope jacucaca) também vem sofrendo com a redução dos bandos, por causa da caça ilegal e do desmatamento predatório. Tanto que seu estado atual de conservação é considerado “vulnerável” pelo Ministério do Meio Ambiente.
O agravante é que a jacucaca é uma ave endêmica do Brasil. Na Terra, só ocorre aqui.


Frugívera, caso desaparecesse, deixaria de espalhar sementes e de reflorestar a Caatinga, o Cerrado e as matas secas das serras. O fruto do juazeiro por fazer parte da dieta da ave.

Cores
Azul escuro, vermelho, azul metálico, verde, preto, amarelo, cinza... Uma palheta de tons veste o “fraque”, a cabeça, as asas, as pernas, o bico e a cauda da saíra-militar (Tangara cyanocephala cearensis). O bicho exuberante, embora não se adapte à gaiola, ainda é perseguido por traficantes. É um pássaro “totalmente dependente” da floresta. E, “além de Baturité, ocorre na Aratanha e Maranguape”, explica Fábio Nunes no Guia.

A história do periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus), apesar de ainda fazer parte da lista de ameaçados, tomou um rumo diferente em relação aos que correm o risco de desaparecer. Foi depois que a Aquasis, apoiada por outras instituições, como a Fundação Boticário, começou a reverter a situação. 

Fábio Nunes conta que a espécie desceu, em 2015, da condição de “perigo crítico de extinção (CR)” para “em perigo (EN)”. Classificação utilizada pelo Ministério do Meio Ambiente. Para a International Union for Conservation of Nature (IUCN), no entanto, a existência do pássaro permanece crítica. 

“Houve grandes avanços”, afirma Nunes. “A população de periquitos-cara-suja, na serra de Baturité, experimentou um aumento significativo nos últimos anos”. Segundo o biólogo, somente nas caixas-ninho (feitas de madeira) nasceram e voaram mais de 300 indivíduos. “Isso é mais do que a estimativa oficial de todos os periquitos-cara-suja na natureza quando começamos a trabalhar com a espécie”. 

Porém, segundo critérios da IUCN, “falta a repovoação da espécie em áreas históricas para diminuir a perda de habitat enfrentada nos últimos 30 anos (mais de 85%)”. De acordo com Fábio Nunes, a espécie já foi registrada em outros tempos em pelo menos 15 áreas no Ceará. Hoje só ocorrem em três biomas. Um deles, a Serra Azul, espaço onde se descobriu a existência de alguns indivíduos em 2014. “Só restam quatro exemplares e estamos trabalhando para tentar não perdê-los”, projeta o biólogo e fotógrafo. opovo

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