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Aversão da esquerda à reforma da Previdência não passou de teatro

Enquanto a proposta de modificar as regras das aposentadorias estava apenas na esfera federal, os grupos oposicionistas empreenderam um espalhafatoso movimento de antagonismo ao projeto, supostamente em defesa dos interesses do trabalhador. Até aí, nada demais. Só oposição sendo oposição e, de forma conveniente, escolhendo seu lado numa pauta bastante impopular. 

Mas, neste fim de ano, surgiu uma ironia daquelas. Estados governados pela esquerda/centro-esquerda encaminharam em velocidade impressionante suas próprias reformas previdenciárias. No Ceará, por exemplo, bastaram nove dias para aprovar as novas regras que regem a aposentadoria dos servidores. 

Piauí e Maranhão, cujas lideranças também se inclinam à esquerda, levaram ainda menos tempo. No primeiro, governado por Wellington Dias (PT), uma ampla reforma passou em seis dias; no segundo, de Flávio Dino (PCdoB), um dia foi suficiente para aumentar a alíquota de contribuição do servidor.

Confortavelmente, esses estados jogam um pouco da responsabilidade para o Governo Federal, afinal, a PEC paralela, que os inclui no bojo das mudanças, deve ser finalizada em meados do primeiro semestre de 2020. Mas esperar pra quê? 1) Há um custo muito maior em mexer com um assunto dessa natureza em ano de eleição. 2) Mesmo as gestões de esquerda sabem que precisam equilibrar as contas - algo que, aliás, o Ceará vem fazendo com responsabilidade nos últimos anos.

Mas a lição que fica nesse paradoxo é a de que esquerda e direita farão o que for necessário para salvar suas próprias peles. Em situações críticas, administrações de esquerda vão acenar para medidas austeras e punitivas ao cidadão; assim como governos de direita flertarão com o populismo perdulário em busca de aprovação.

Na Hora H, não há espaço para romantismo ideológico. Diante da frieza dos números, um governo, seja de qual partido for, fará simplesmente o que precisa ser feito para sobreviver, por mais que isso machuque quem o elegeu. E como seria bom se as pessoas aprendessem, com episódios assim, a não idealizar cegamente seus escolhidos. Ao invés disso, deveriam ser críticos contumazes dos políticos em que votam, apesar das compreensíveis simpatias. 

Victor Ximenes com diarionordeste

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