100 dias para a eleição presidencial: a disputa já está definida?
Faltam 100 dias para o primeiro turno das eleições no Brasil. No dia 2 de outubro, os eleitores brasileiros vão votar para os cargos de presidente, governador, deputados estadual e federal, além de um senador da República por estado. Pela primeira vez desde a redemocratização do país, dois nomes rivalizam de forma muito antecipada a disputa presidencial.
De acordo com a pesquisa eleitoral EXAME/IDEIA divulgada na quinta-feira, 23, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o presidente Jair Bolsonaro (PL) seriam os escolhidos para o segundo turno, caso as eleições fossem hoje. Em uma pergunta espontânea, sem que os eleitores recebam uma lista com os pré-candidatos, os dois somam 65% das intenções de voto, o que indica que há pouca margem para mudanças nesses 100 dias.
A EXAME/IDEIA ouviu 1.500 pessoas entre os dias 17 e 22 de junho. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-02845-2022. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. A EXAME/IDEIA é um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública.
Maurício Moura, fundador do IDEIA, avalia que essa eleição é o que ele chama de “batalha de rejeições”. “Tanto a rejeição ao PT quanto ao presidente Bolsonaro. Nesse momento, a rejeição ao governo maior proporciona a liderança do Lula, mas quem chegar com uma rejeição menor em outubro será o vencedor”, diz.
Em uma pergunta feita sobre qual nome o eleitor não votaria de jeito nenhum, Bolsonaro tem 44% das menções, e Lula é citado por 42% Ciro Gomes (PDT) tem 18%, e Simone Tebet (MDB) aparece com 12%.
Economia e inflação
Para o cientista político André César, da Hold Assessoria, há muitas diferenças entre o momento de 100 dias antes das eleições de 2018 e agora, em 2022. Há quatro anos, o ex-presidente Lula estava preso, mas ainda se discutia na Justiça se ele poderia ser candidato ou não. Pouco tempo depois ele ficou inelegível, e Fernando Haddad assumiu o posto de cabeça de chapa.
“O elemento que era debatido em 2018 era a corrupção. Neste ano, a economia volta a ser um tema central, que é algo que sempre foi utilizado em outras campanhas. A diferença é que vivemos uma situação mais dramática, que é pior para o presidente Bolsonaro, que tenta a reeleição”, afirma.
Mais da metade dos eleitores dizem que o principal problema do país hoje é o desemprego e a inflação, de acordo com a pesquisa EXAME/IDEIA.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de junho, considerada a prévia da inflação do mês, ficou em 0,69%, no dado divulgado nesta sexta-feira, 24, pelo IBGE. Em 12 meses a alta acumulada é de 12,04%. Um dos produtos que mais subiu foi o diesel, que teve uma alta de 2,83% no IPCA-15 de junho.
Há poucos dias o ex-presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, renunciou ao cargo, logo depois de anunciar um novo reajuste dos combustíveis - 14% no diesel e de 5% na gasolina -, algo que impacta diretamente na inflação.
Terceira via
O PSDB pela primeira vez em mais de 30 anos não vai ter um candidato à Presidência. João Doria (PSDB) desistiu de concorrer ao Palácio do Planalto e os tucanos decidiram apoiar a pré-candidatura da senadora pelo Mato Grosso do Sul, Simone Tebet, formando uma chapa da terceira via, que inclui ainda o Cidadania.
O acordo nacional envolveu palanques estaduais, com o MDB apoiando a reeleição de Rodrigo Garcia (PSDB), em São Paulo, e a pré-candidatura de Eduardo Leite (PSDB), que decidiu concorrer a um segundo mandato pelo Rio Grande do Sul. A grande questão é se Tebet vai sair dos 3% de intenção de voto que ela teve na última pesquisa EXAME/IDEIA.
“Continuamos vendo a terceira via bastante distante de Lula e Bolsonaro. Vemos também as intenções de voto do ex-ministro Ciro Gomes bastante estável. Lembrando que há uma diferença entre a os votos estimulado e espontâneo, ou seja, é importante ficar atento à curva de intenção de votos de Ciro Gomes porque ela pode ser a definidora da eleição acabar ou não no primeiro turno”, explica Maurício Moura.
Eleições nos estados
Assim como a terceira via está costurando os acordos nos estados, Lula e Bolsonaro também fazem movimentos para ganhar palanques locais, que serão espelho da disputa nacional. Alguns estados são decisivos para ambos.
No caso do petista, na próxima semana deve sair a definição se Fernando Haddad será o candidato da esquerda ao governo, com Márcio França desistindo de concorrer e saindo ao Senado. No estado, Bolsonaro tem seu ex-ministro, Tarcísio de Freitas, que aparece bem colocado nas pesquisas.
O cientista político André César avalia que os palanques estaduais são estratégicos para Lula e Bolsonaro, mas que nesta eleição é o nacional que vai definir como os políticos locais vão se movimentar.
“Na Bahia, é praticamente certo que o PT vai perder. ACM Neto (União Brasil) está praticamente sozinho na disputa. Mas ele não deve fazer uma campanha de oposição a Lula porque o petista tem muito apoio da população baiana, sobretudo no interior do estado. Em Minas Gerais, Lula apoia Alexandre Kalil (PSD) e ainda conseguiu atrair Gilberto Kassab. Romeu Zema (Novo), apesar de brigas, deve dar palanque à reeleição do presidente”, diz.
Governo Bolsonaro é o mais corrupto da nossa história, com ou sem pastores...
Não deixa de ser impressionante que se diga que o caso dos pastores abala um dos principais pilares do discurso bolsonarista: o combate à corrupção. Em 2018, vá lá, essa "narrativa" — recorrendo à palavra que a extrema-direita espancou até esvaziá-la — poderia fazer algum sentido. Não tendo nada a oferecer e sem programa que não fosse "desconstruir" o suposto comunismo que tomaria conta do país, Jair Bolsonaro prometeu o reino dos homens virtuosos, contra a corrupção, em parceria com a famigerada e degenerada Lava Jato. E, no entanto, temos o governo mais corrupto da história, embora isso possa não ser óbvio. Chegarei lá.
Empreguei acima a palavra "narrativa" e lembrei que a dita-cuja passou a integrar o vocabulário dos reacionários delirantes. Eles lhe emprestam um sentido muito particular: "mentira contada pelo inimigo". Sempre que confrontados com uma verdade que afronta o seu discurso e seus delírios, gritam a plenos pulmões, contra os fatos: "Isso é só uma narrativa". Como vivem numa realidade paralela, num Brasil paralelo, num universo paralelo, tomam as evidências incômodas, que desconstroem as suas fantasias e delírios, como conspiração.
Como esquecer? Esse governo ganhou o selo da corrupção antes de começar. O caso da rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro, o então deputado estadual que se elegera senador, estourou no fim de 2018, antes ainda da posse de seu pai. Não se revelava ali um deslize, mas um jeito de entender o uso do dinheiro público. Com o poder que tinha até então — dois deputados federais, um deputado estadual e um vereador —, o clã fazia o que estava a seu alcance no manejo, digamos, criativo do dinheiro público. Até agora, Flávio — aquele que empregava mãe e mulher de miliciano — conseguiu se safar. É verdade: a corrupção que se praticou no Ministério da Educação, com verbas do FNDE, é daquele tipo particularmente incômodo para os corruptos porque compreensível para as massas. Sem dúvida, são ocorrências graves. Convenham: qualquer roubalheira é repugnante, mas a que envolve dinheiro de Saúde e Educação é especialmente asquerosa. Em casos assim, faz-se uma transfusão direta de recursos da veia dos que já têm pouco para a dos pançudos.
Bolsonaro tentou, nesta quarta, jogar o ex-ministro Milton Ribeiro às cobras, fingindo não ter nada com isso. Era aquele por quem disse que poria "a cara no fogo". Não se conhece, enquanto escrevo, a fundamentação da prisão preventiva. Se não estiver dada a contemporaneidade delituosa e se não se constar que Ribeiro tentou interferir na instrução criminal ou deixar o país, é provável que lhe seja concedido um habeas corpus, com eventual imposição de medidas cautelares distintas da prisão. Mas, insisto, isso depende das razões que levaram a PF a pedir a preventiva e o juiz a concedê-la..
Cabe aqui uma consideração sobre o inferno que colheu Bolsonaro: esteja o ex-ministro preso ou solto, com medidas cautelares ou não, é claro que se trata de mais um tormento para presidente, que está colhendo, o clichê é inescapável, aquilo que plantou. Isso é verdade, note-se, até para a tragédia que atingiu Bruno Araújo Pereira e Dom Philipps. Poderiam ter sido mortos durante a gestão de um governo empenhado em proteger o meio ambiente e as terras indígenas. Ocorre que esta faz precisamente o contrário. Mesmo depois de confirmadas as mortes, com os requintes conhecidos de brutalidade, vozes oficiais tentaram culpar as vítimas. Também a crise dos combustíveis é desdobramento de escolhas feitas pela dupla Bolsonaro-Guedes. E a forma como o governo tenta equacioná-la ameaça até a governança dos Estados..
É fato: a despeito da barbárie em curso em todas as áreas, Bolsonaro tentaria — e tentará — se agarrar à fantasia de um governo sem corrupção. O caso dos pastores fanfarrões torna o discurso, falso em si, ainda menos verossímil. Mas quero voltar lá ao primeiro parágrafo.
A MAIOR DE TODAS Ainda que fosse verdade tudo o que os adversários e inimigos dizem contra as gestões petistas; mesmo que fosse pior, corrupção como a que está em curso jamais se viu. Eu me refiro aos acordos que Bolsonaro teve de fazer para não cair, entregando ao Centrão, sem resistência -- a não ser de mentirinha --, a chave do cofre por intermédio do "Orçamento Secreto". Essa, sim, é a maior corrupção da nossa história porque, com ela, se compra a opinião de quase metade do Parlamento e se pervertem as instituições.
Mais: formada a maioria no Congresso do modo como se sabe, esta garante outras iniquidades, como o estupefaciente pacote de combustíveis, que arma uma bomba fiscal. O resultado é o cruzamento malsucedido da vaca com o jumento: o híbrido nem dá leite nem puxa carroça..
O Datafolha divulga nesta quinta sua mais recente pesquisa, com dados colhidos ontem e hoje. Terá o caso dos pastores impactados os eleitores? Acho que ainda não dá para saber. Mas parece certo que o governo poderá avaliar se a tática de demonizar a Petrobras rendeu algum dividendo eleitoral. Até agora, a maioria não se mostra disposta a dar uma segunda chance ao governo mais corrupto da nossa história..
Tesoureiro de Lula tem como primeiro desafio conseguir doações para bancar pré-campanha sem fundo eleitoral
Por Bruno Góes — Brasília O GLOBO
Longe dos holofotes da corrida eleitoral, petistas travam debates sobre o financiamento de viagens e eventos para a pré-campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. O assunto se tornou espinhoso porque no atual período ainda não é possível usar os recursos do Fundo Eleitoral. A especial preocupação com a segurança pessoal de Lula, que tem se deslocado em aeronaves privadas e com escolta reforçada, tem elevado os custos da pré-campanha.
À frente deste tema está o deputado federal Márcio Macedo (PT-SE). Biólogo de formação, recém-empossado na Câmara e “homem de confiança” do ex-presidente, ele é o indicado para ser tesoureiro da campanha de Lula. O cargo, por lidar com dinheiro, ganhou simbologia especial nos ataques dos adversários do partido desde a devassa promovida pela Lava-Jato.
O histórico do posto dá a dimensão do pepino: Delúbio Soares e João Vaccari Neto, dois membros da burocracia da legenda, viraram nomes famosos e protagonistas da crônica política ao serem presos no esteio da Lava-Jato. A “fama” de Delúbio veio ainda antes, no mensalão, quando ele ajudou a cunhar a expressão “recursos não contabilizados” para defender a tese de que não havia um esquema de corrupção, mas sim caixa dois de campanha eleitoral.
Foi com a prisão de Vaccari em 2015 que Macedo assumiu pela primeira vez a função de tesoureiro do PT. À época, teve atuação discreta, sem maiores percalços. De volta ao posto, ele vem sendo pressionado por correligionários a aceitar contribuições e a marcar jantares para reforçar o caixa do partido.
Ao mesmo tempo em que debate doações, o deputado-tesoureiro já começou a aparecer e a discursar em palanques ao lado do pré-candidato. Há pouco mais de uma semana, em Sergipe, figurou ao lado de Lula e do vice da chapa, Geraldo Alckmin (PSB). Macedo assumiu a cadeira na Câmara após a cassação, pelo TSE, do deputado Valdevan Noventa (PL-SE) por abuso de poder econômico e compra de votos na eleição de 2018. Uma campanha própria para reeleição como deputado, porém, divide o partido, já que alguns integrantes do PT defendem que o cargo de tesoureiro exige dedicação exclusiva.
Mesmo com a garantia de ter recursos suficientes para a campanha, os petistas vivem um dilema para a pré-campanha, período no qual não é permitido recorrer aos R$ 503,3 milhões da sigla no Fundo Eleitoral. A pressão de parte do partido é aceitar doações, em eventos e jantares, como o previsto para hoje, em São Paulo, com contribuições de até R$ 20 mil. Um dos organizadores do evento, o advogado Marco Aurelio Carvalho, do grupo Prerrogativas, diz que haverá apenas um evento “privado” e que não há relação com a pré-campanha. Ele confirma, porém, que integrantes do grupo fizeram doações ao Partido dos Trabalhadores. O GLOBO apurou que essas doações, juntas, superam R$ 2 milhões. Macedo também tem dito que o evento não foi marcado para a bancar a pré-campanha.
No evento, ainda devem comparecer Alckmin e a cineasta Maria Augusta Ramos, diretora do filme “Amigo secreto”, que retrata o período da divulgação das mensagens trocadas entre o então juiz da Lava-Jato, Sergio Moro, e procuradores da operação.
Para reforçar o caixa em período anterior à campanha, petistas pretendem ainda lançar uma grande campanha institucional de doações à legenda. O formato, contudo, ainda é debatido e gera preocupações.
Lula, porém, sinaliza que não gostaria de ver seu nome envolvido em arrecadação financeira. Parte da legenda tem defendido que o ex-presidente faça uma grande campanha de recursos na internet. À coluna de Bela Megale, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tratou do tema e do jantar:
— Decidimos fazer o jantar para agradecer aos advogados militantes do PT que se mobilizaram para arrecadar e fazer doações ao partido. Estamos estimulando a arrecadação, temos vaquinha on-line e outra para a campanha de Lula, respeitando a lei eleitoral.
Cerco às estatais
Merece repulsa enfática a intenção de lideranças do centrão na Câmara dos Deputados de alterar dispositivos da Lei das Estatais, aprovada em 2016, que impedem nomeações de caráter político em empresas públicas e de capital misto.
A legislação foi uma resposta aos escândalos de corrupção, má gestão e prejuízos bilionários, notadamente na Petrobras, ocorridos durante governos petistas.
Com o dispositivo, foram definidos critérios objetivos para a escolha de gestores e membros de conselhos de administração, como reputação ilibada, formação e experiencia profissional compatíveis com o cargo, além de distância em relação a interesses políticos.
Não podem ser indicados, por exemplo, ministros de Estado, secretários estaduais e municipais, dirigentes partidários e de sindicatos —vedação que abarca os parentes até o terceiro grau.
A lei também dispõe sobre boas práticas de gestão e transparência, além de reforçar que o acionista controlador, o governo, deve atuar tendo em conta o interesse maior da companhia e respeitar os dispositivos da Lei das Sociedades Anônimas, sob pena de responder por abuso de poder.
Tal regramento causa espécie em políticos como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ou o líder do governo na casa, Ricardo Barros (PP-PR). Ambos querem maior alinhamento das estatais com o governante de plantão e facilidade para trocas de comando.
Contam para isso com o flanco aberto pelos virulentos ataques à Petrobras por parte do presidente Jair Bolsonaro (PL), interessado em controlar preços de combustíveis às vésperas das eleições.
A preocupação do centrão com o encarecimento da gasolina e do diesel é apenas circunstancial. O verdadeiro objetivo é ampliar seu poder —em português claro, os parlamentares querem acesso aos cofres das empresas estatais.
Não surpreende, por isso, o apoio da cúpula petista à iniciativa. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que a lei criminaliza a política e que um governo eleito tem que dar a linha para as estatais, como se isso não pudesse ser feito com boa governança.
É notável como os intervencionistas, à esquerda e à direita, não conseguem dissociar o interesse público de suas conveniências políticas. Eis a prova inconteste de que a disciplina imposta pela Lei das Estatais é fundamental e não pode ser flexibilizada.
Inelegível, candidato do PT na Paraíba faz campanha na esperança de reverter decisão
Julia Lindner / O ESTADO DE SP
26 de junho de 2022 | 05h00
O ex-governador Ricardo Coutinho (PT) tem feito campanha ao Senado na Paraíba mesmo estando inelegível. Coutinho foi condenado em 2020 pelo TSE por abuso de poder econômico na eleição de 2014. Agora, ele aposta em reverter a decisão da Justiça Eleitoral no STF.
FÉ. Para opositores, a decisão da Corte sobre o bolsonarista Felipe Fracischini, em junho, pode ter aberto um precedente negativo para Coutinho. Com o paranaense, o STF prestigiou a decisão do TSE e não alterou o resultado. Ainda assim, Coutinho está confiante.
FÉ 2. Candidato ao governo da Paraíba pelo MDB, o senador Veneziano Vital do Rêgo, que faz parte da chapa com o PT, disse que “acredita na condição de elegibilidade dele (Coutinho)”, e que é preciso aguardar a resposta sobre o recurso.
Coluna do Estadão: No dia da prisão de Milton Ribeiro, governo pagou R$ 1,8 bilhão em emendas
A FRAUDE DA TERRA
J.R. Guzzo / O ESTADÃO
O ex-presidente Lula já garantiu, entre as múltiplas promessas que está fazendo na campanha eleitoral para a Presidência da República, que o MST vai ter uma posição importante no seu governo. É um dos seus piores projetos, caso isso seja mesmo um projeto, e não uma peça de conversa fiada para tapear a esquerda mais primitiva que viaja no seu bonde – e para atender as neuroses da porção do público urbano que se assusta com os “pecados mortais” da produção rural brasileira. Essa gente tem certeza de que a soja e o milho estão destruindo a Floresta Amazônica. Acha que o agronegócio “envenena a comida” dos brasileiros, com a utilização de “agrotóxicos” e outros horrores da química. Está convencida de que os fazendeiros perseguem os índios. Suas terras são muito grandes, mecanizadas e consumidoras de tecnologia avançada – coisas que o “pequeno proprietário” e a “agricultura familiar” não podem ter. Na verdade, o agronegócio é o oposto do que os padres, os centros acadêmicos e os artistas de novela querem para o Brasil rural: um País de “pequenas propriedades”, dedicado à produção de coisas “orgânicas”, aos métodos naturais de cultivo e capaz de obter a aprovação da menina Greta e do ator Leonardo DiCaprio. O MST finge que está nessa balada.
Tudo isso é uma falsificação completa. O agronegócio é o setor mais bem-sucedido da economia brasileira, e não precisa das ideias de Lula e do PT – chegou aonde está sem eles, e só prospera com eles de longe. Quanto ao MST, pode-se dizer com segurança que a última coisa que passa pela cabeça dos seus proprietários é fazer uma reforma agrária no Brasil. O MST quer, hoje, o que sempre quis: invadir terra para receber verba do governo, diretamente ou por meio de ONGs, em nome da solução do “problema social no campo”. Esse problema tem de existir sempre – sem ele, os dirigentes do MST não vivem. Eles não querem terra para o pequeno agricultor que não tem dinheiro, nem condições, para comprar um pedaço de chão. Querem se entender com o Banco do Brasil. Nada poderia provar isso com mais clareza do que a sua posição contrária à distribuição de títulos de propriedade que vem sendo feita pelo governo. Como assim? O objetivo do MST não é fornecer aos sem-terra justamente isso – terra para cultivar e legalização da sua propriedade? Não: o MST acha que a terra tem de ser “coletiva”.
No governo Dilma houve 1.000 invasões. No de Lula foram 2.000. No de Fernando Henrique foram 2.500 – inclusive a fazenda do próprio presidente. Em 2021, foram 11 e, ao todo, de 2018 para cá, apenas 24. Não é preciso dizer mais muita coisa.